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Tuga em Londres

A vida de uma Lisboeta recentemente Londrina.

Um início de ano difícil

Passado umas horas depois de ter escrito o meu primeiro post do ano no dia 1, recebi as notícias que andava já há alguns dias a temer. A minha avó tinha falecido. Aos 94 anos, ela foi a última dos meus avós a falecer. E a última sobrevivente de doze filhos que os meus bisavós tiveram. 

 

A minha avó teve uma presença muito significante na minha vida porque ajudou os meus pais a criarem-me. Enquanto eles trabalhavam eu ficava com a minha avó. Ela brincava comigo; íamos passear muitas vezes; ela ensinou-me a fazer renda e bordados; rimo-nos muito, éramos muito amigas, e mesmo quando cresci sempre mantemos uma relação muito próxima. 

 

Aprendi muito com a minha avó, mas inevitavelmente cresci numa pessoa muito diferente dadas as gerações. Mas talvez a diferença mais significativa que identifiquei entre nós tenham sido mesmo os nossos hábitos. A minha avó sempre gostou dos seus hábitos constantes, das coisas a que estava habituada e da certeza de ambientes conhecidos, enquanto que eu sempre gostei de descobrir coisas diferentes e diversidade. Todas as manhãs e todas as noites bebia um copo de água quente com açúcar. Vestia-se de preto (por luto do meu avô) ou cinzento nos anos mais recentes, e com uma bata por cima da roupa. Passava horas e horas a fazer renda com o objectivo de terminar as decorações arrendadas de muitas toalhas e lençóis para o enxoval dos netos todos (somos cinco entre os seus três filhos). As refeições que fazia eram também regulares e nunca me lembro de ter cozinhado algo que eu não tivesse experimentado antes. Quanto a doces - ou fazia o 'Bolo d'Avó' ou fazia Arroz Doce em dias de festa. Ahhhh, o bolo d'avó!! Agora que penso nele vem-me o sabor à boca e sinto aquela consistência esponjosa e fofa que ele tinha. Podia ser sempre o mesmo bolo, e era muito simples - ovos, farinha açúcar e fermento, com uma espremidela de laranja por cima depois de estar cozido - mas era absolutamente delicioso e eu adorava sempre que ela nos fazia o bolo d'avó'. 

 

Vêm-me as lágrimas aos olhos ao pensar que nunca mais o vou poder comer. 

 

Este post está a custar-me mais a escrever do que pensei por isso vai terminar por aqui. Ficam algumas memórias.

 

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