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Tuga em Londres

A vida de uma Lisboeta recentemente Londrina.

O poder da mulher no trabalho, na vida, na política, na moda - um dia na Stylist Live

Ontem passei o dia no Stylist Live, um evento organizado pela revista Stylist que é oferecida ao público junto às estações de transportes principais de Londres todas as quartas-feiras. Para quem não conhece a revista, a Stylist tem sido um autêntico fenómeno de sucesso dentro das revistas femininas, porque ao contrário da maioria, não se concentra em bisbilhotices sobre as celebridades, mas sim apresenta jornalismo inteligente que trata de temas tais como o papel da mulher no ambiente de trabalho, entrevistas com mulheres que ofereçam inspiração para outras, viagens, eventos e moda. Todos os anos organiza um evento que conta com várias palestras, uma zona de passarelle de modelos, workshops, assim como uma zona de exibição onde há desde cabeleireiros e salões de unhas que embelezam as participantes gratuitamente, até várias marcas de moda, joalharia, comida, bebida, etc. que apresentam os seus produtos e oferecem imensas amostras. 

 

Digamos que passei lá todo o dia e não fiquei aborrecida. Gostei principalmente do que aprendi durante as palestras. A primeira que ouvi foi dada pela fundadora da marca de papelaria Kikki.K, Kristina Karlson, que focou no valor de manter um diário. Ela escreve 3 páginas no seu diário todas as manhãs, mas ao contrário da forma como geralmente pensamos sobre um diário, onde escrevemos para mais tarde recordar, no caso dela, ela escreve para deixar sair todos os seus pensamentos, mas nunca mais volta a ler as páginas que escreveu, e muitas vezes, até queima o que escreveu. A lógica dela é que, ao deitarmos para fora num papel tudo o que vai na nossa mente nesse dia, ajuda a reflectir no que nos tormenta e no que nos torna feliz, ajudando a contrabalançar as ideias e tomarmos acções para o dia que está pela frente. Ainda nunca tinha pensado bem nesse benefício que um diário pode trazer, mas acho que o que ela diz tem muita lógica. Sem dúvida, quando coloco as ideas no papel, ajuda-me a pensar mais sobre elas e a reflectir em possíveis soluções, caso uma solução seja necessária.  Acho que muitas pessoas conseguem alcançar o mesmo tipo de resultado quando fazem meditação. No meu caso, costumo fazer esse tipo de reflexões quando vou correr junto ao canal ou no parque. O ar da rua e silêncio matinal também costumam ajudar-me a reflectir sobre o dia, e sobre as coisas boas e as coisas que me atormentam de forma geral. Mas gostei da sugestão do diário também como uma boa alternativa para passar os pensamentos. 

 

Uma outra palestra que achei interessante foi a discussão entre os autores de dois recentes livros 'Everywomen: One woman's truth about speaking the truth' e 'How not to be a boy'. Respectivamente, estou-me a referir a Jess Phillips, que é uma MP do Partido Trabalhista que representa Birmingham e o actor/comediante Robert Webb. A Jess é conhecida pela sua luta pela presença de mais mulheres no Parlamento e o seu livro fala sobre as várias situações por que as mulheres passam ao longo da vida onde são humilhadas por homens ou forçadas a passar por situações que não querem passar, e o livro oferece ideias e sugestões que podem ajudar essas mulheres a aperceberem-se de que têm o direito e dever de dizer que não, ser mais fortes, acreditar mais em si mesmas, e lutar pelo que querem. O livro do Robert retrata a sua própria infância e as dificuldades por que passou ao crescer como um rapaz sensível que gostava de poesia e detestava desporto numa sociedade onde os rapazes deviam fazer exactamente o oposto daquilo que ele queria, e onde fala também da sua próxima relação com a mãe e da sua dificuldade em ultrapassar a morte dela quando ele tinha apenas 17 anos. A forma como apresentaram os livros foi extremamente atraente, e resultou em grandes filas com pessoas a esperarem para ter os seus novos livros assinados pelos autores. 

 

Outras palestras de interesse foram uma onde Jess Phillips, Catherine Mayer (a co-fundadora do Partido da Igualdade das Mulheres) e Nimco Ali (Activista pelos direitos sociais, geralmente relacionados com a igualdade das mulheres, raça e religião) falaram sobre a importância de cada uma de nós estar atenta à política nacional, a importância do voto, e porque é que não devemos ignorar o que se passa à nossa volta a nível político. Gostei também muito de uma outra onde a empreendedora Debbie Wosskow falou da sua história, lutas e sucessos relacionadas com o lançamento e venda de duas empresas e, do seu actual projecto Allbright, que é efectivamente uma organização que oferece treino  e apoio financeiro para mulheres que também querem lançar a sua própria empresa. Fica a informação sobre esta organização, caso esta venha a ser útil para algumas das leitoras do blog. 

 

De forma geral, foi um dia muito bem passado e voltei para casa cheia de entusiasmo e com novas ideias para aplicar no meu dia-a-dia. 

 

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Ainda há quem pense que o lugar da mulher é na cozinha

Acho impossível como, numa cidade como Londres ainda existe tanta a distinção do tipo de cargos que a mulher e o homem ocupam dentro de uma empresa.

 

Ainda hoje estava a falar com a minha "housemate" Irlandesa sobre isso e de facto tanto ela como eu trabalhamos em empresas onde maioritariamente existem homens. Ela trabalha em técnologias da Informação, logo aí é uma área maioritariamente masculina, mas nesse aspecto acho que tem a haver mesmo com o facto de haverem menos mulheres do que homens qualificados nesta área. Se bem que, nos tempos em que eu andei no ISCTE, as turmas de IGE (Informática e Gestão de Empresas) tinham cerca de 50%, 50% entre alunos masculinos e masculinos, mas já no curso mais técnico de ETI (Electronica e Tecnologias da Informação) portanto bastante mais técnico do que no primeiro caso já havia cerca de 30% feminino por 70% masculino.

 

Já no caso da minha empresa existem os mais variados cargos que podiam perfeitamente ser ocupados por homens ou mulheres, no entanto, mesmo assim a minoria feminina à excepção de mim própria que estou no departamento de marketing e de mais duas que estão na área financeira, todas as restantes poucas mulheres ocupam funções ou de administração (secretarial), ou de apoio ao consumidor ou vendas.

 

Falando em vendas, o mais interessante foi ha uns poucos meses atrás onde queriam contratar mais duas pessoas para vendas, e o director de marketing estava a falar ao telefone com a agência de recrutamento e a descrição que ele deu dos cargos a ocupar foi algo como o seguinte: "Necessitamos de duas pessoas para a area das vendas, um Assistente de Vendas e um vendedor ao nível Executivo. Portanto para o Assistente de vendas não necessita de muita experiência, preferencialmente uma mulher jovem e atraente, já no caso do Vendedor ao nível Executivo estamos portanto a falar de um homem com vasta experiência..."

 

Mas isto dá para acreditar??? Eu não conseguia acreditar nos meus ouvidos, mas infelizmente, ainda há muito essa descriminação quer estejamos numa empresa nalguma pequena villa ou numa moderna cidade como Londres.