Daqui a uma semana e 3 dias as primeiras lojas não essenciais vão finalmente poder abrir. Entrámos no nosso terceiro confinamento aqui em Inglaterra a 5 de Janeiro e, desde essa altura que as lojas não essenciais não voltaram a abrir, que não podemos viajar, que não nos podemos encontrar com mais do que um amigo fora de casa. Faz mais de 4 meses nesta situação em que os nossos dias, noites, fins-de-semanas são idênticos ao outro anterior. Foram 4 meses em que temos estado a viver o 'Groundhog Day' continuamente. Só que em vez de passarmos o dia num festival cheio de pessoas onde temos a oportunidade de socializar e conhecer cada pessoa melhor, passamos os dias a fazer passeios sozinhos ou com as pessoas que vivemos, a ouvir podcasts, tentar ser imaginativos com a culinária e ver séries sem fim no Netflix.
Devo dizer que este ano permitiu-me conhecer melhor a zona onde vivo do que nos 6 anos anteriores em que já estava na zona. Neste momento penso que já não há qualquer rua num rádio de 5 km por onde ainda não tenha passado. Isso é positivo não é? Sempre é bom conhecer bem a zona onde se vive. Não seria bem o que teria escolhido fazer num ano normal mas há que olhar pelo lado positivo da coisa.
Esta fase também nos ajudou a parar e pensar mais na vida que vivemos, o que alcançámos e o que ainda queremos alcançar. E devo dizer que, pelas conversas que tenho tido com muitas pessoas, isso não tem sido necessariamente uma actividade positiva. Afinal, quando temos uma vida ocupada e não estamos a atingir aquilo que queremos - quer seja o trabalho que fazemos; o lugar onde vivemos; estarmos a partilhar a nossa vida com a pessoa certa; ou fazer o projecto que temos planeado à anos - temos uma desculpa para não os termos atingido porque estamos demasiado ocupados. Agora de repente temos tempo. Tivemos um ano inteiro de tempo, e apesar de haver o desconfinamento em vista, não temos a certeza total de que efectivamente vamos voltar à normalidade que conhecíamos em 2019 para breve. E com todo este tempo é inevitável que tenha havido muita ansiedade, depressão, incertezas, porque não são muitas as pessoas que podem dizer que está tudo bem com elas e que têm a vida exactamente como elas queriam. Pelo contrário, acho que nunca ouvi tantas pessoas dizerem num espaço de tempo tão pequeno de que esta não era a vida que imaginaram para elas.
Conheço quem se queira divorciar porque se apercebeu, com o confinamento, que estar 24horas com o pai do filho só lhe traz desgosto; quem decidiu que vai ser mãe solteira porque quer mais que tudo ser mãe mas que já não sente qualquer esperança de ter tempo para conhecer o futuro pai dos filhos a tempo de engravidar enquanto ainda é jovem o suficiente para o fazer com segurança; conheço quem se apercebeu que escolheu a carreira errada mas que enquanto não sairmos do confinamento não pode fazer uma mudança; conheço também quem tenha decidido optar voltar ao trabalho que tinha deixado à anos atrás porque o confinamento não lhe permitiu continuar a seguir o seu sonho;conheço também quem tenha visto os seus negócios aceleraram de uma forma que nunca teria acontecido se não fosse a pandemia e que, agora estão muito melhor financeiramente do que o que estavam à um ano atrás; conheço quem decidiu mudar-se para o campo para poder ter o espaço e o conforto que acha que nunca vai poder ter na cidade; conheço também quem se tenha enroscado de tal forma em casa com receio e ansiedade de apanhar o vírus que agora se sente altamente desconfortável por sair de casa e não gosta da ideia de voltar a encontrar-se com pessoas.
Esta pandemia trouxe-nos mais que muitas mudanças na vida e dúvidas que colocaram em perspectiva e em questão as nossas decisões. Tem havido muita tristeza associada com tudo isto mas eu espero que este ano de introspecção, nos ajude a termos força para podermos tomar as decisões que precisamos de tomar para fazermos as mudanças que sejam necessárias baseadas naquilo tudo que andámos a pensar e que concluímos. Somos nós os donos das próprias vidas e devemos vive-las como quisermos pelo que espero que daqui a um ou dois anos, quando olhar para trás para este período, em vez de apenas pensar em todas as coisas negativas que estão intrinsecamente associadas a este período, que consiga também ver as mudanças que eu e as pessoas que me envolvem fizeram para melhorar de uma forma ou outra aquilo que achámos que não estavam bem certo.
Entretanto só espero que o Governo Britânico esteja correcto, e que este terceiro confinamento que estamos quase a terminar, tenha sido mesmo o último para podermos finalmente passar esta fase e sair do 'Groundhog Day'. A ver vamos...
Esta coisa do lockdown e de ter quase tudo fechado durante meses a fio significa que as únicas férias que tirei até agora foram mesmo as do Natal e o meu dia de aniversário. Mesmo assim, tinha férias a mais e muito que fazer no trabalho, portanto acabei por decidir passar 4.5 dias de férias do ano passado para este ano, esperando que antes da sua data de prazo (dia 1 de Abril) eu poderia tirá-las para ir passar uma semana numa casa de campo algures pela Inglaterra, mas qual quê. Vamos entrar em Abril e ainda não há hipótese de se ir para lado nenhum. Esqueci-me completamente do prazo até meados da semana que passou. Já estávamos a meio de Março e estou com imenso trabalho por isso não me estava nada a ver a conseguir tirar os tais 4.5 dias a que tinha direito, mas também não os queria perder totalmente. Nesta empresa também não permitem pagar férias que não tenham sido utilizadas por isso estou mesmo numa daquelas situações de 'use it or lose it'. Decidi tirar dois dias e, como tal, vou ficar com um fim-de-semana prolongado na próxima semana e, novamente na semana seguinte, por ter os feriados da Páscoa. Como tal, esta semana que vem trabalho 4 dias e na seguinte trabalho só três. Acho que vai saber bem aproveitar pelo menos dois dos dias a que tinha direito, mas de facto o lockdown tira um pouco a satisfação de ter férias.
Para já estou a planear fazer um passeio de bicicleta num dos dias, e no outro planeio dedicá-lo a um projecto que comecei no primeiro lockdown do ano passado. Como esse projecto envolve estar sentada ao computador como em qualquer outro dia de trabalho acho que não vai saber bem a férias, mas enfim. Numa situação normal, iria levar o portátil para um café, e trabalhava de lá que sempre tornava a experiência diferente do dia-a-dia, mas como ainda faltam dois meses para me poder voltar a sentar dentro de um café, vou mesmo ter que me sentar no meu local habitual. Ou quem sabe, talvez altere um pouco a posição da mesa só para me sentir num ambiente ligeiramente diferente do ambiente de trabalho Aii, estou tão farta disto que nem os dias de férias são dos mais entusiasmantes, mas é um último esforço - mais dois meses para voltarmos a um situação um pouco mais próxima da normalidade
Numa nota mais positiva, se houver algum leitor do blog que seja baseado no Este de Londres, descobri esta semana um novo serviço local de entrega de compras de supermercado que entregam em 10 minutos, inclusive produtos de lojas locais, e não utilizam plásticos para a entrega. Como são um serviço novo em Londres estão a fazer um desconto de £10 em qualquer ordem (sem ordem mínima). Achei bem bom (estas são o tipo de coisas que me deixam entusiasmada no lockdown - qual é o novo serviço de entrega ). Para os interessados este é o Gorillas App, e podem utilizar o código LDN10 para receberem o desconto.
E entramos no terceiro lockdown. Isto já começa a ser tão habitual que já nem me admiro. Como Londres já estava no Tier 4, que era o que tinha restrições mais elevadas em que as lojas, bares e restaurantes estava já tudo fechado, não me faz muita diferença este novo lockdown, mas tem a grande desvantagem de que agora voltamos à situação em que estavamos em Março, em que não devemos sair à rua, a não ser por razões essenciais, e não nos podemos encontrar com amigos para socializar. No Tier 4 ao menos, passear com amigos era permitido.
Estou eu e estamos todos mais que fartos disto, mas sinceramente, com as vacinas que agora estão disponíveis, e contando com o facto de que o Reino Unido foi o país que já encomendou mais vacinas per capita, sinto-me mais positiva de que há uma luz ao fundo do túnel, e que a partir da primavera vamos estar numa situação melhor com muitas mais pessoas protegidas, uma redução consideravel dos casos, e consequentemente, uma maior abertura das nossas vidas sociais novamente. Mal posso esperar! Até lá, bem, tenho mais umas quantas séries com que me entreter, um puzzle para acabar, e aprender a fazer muitos cozinhados veganos durante este mês que estou a fazer o 'veganuary'. Se estiverem interessados em ver as minhas criações veganas, espreitem as Stories do @tugaemlondres no Instagram.
O país pode estar novamente em lockdown, mas a sensação deste lockdown 2.0, é certamente diferente do primeiro. Enquanto que no lockdown em Abril as pessoas ficavam a maior parte do tempo em casa, reservavam a sua via social a chamadas em video conferência, e tinham receio de apanhar o virus muito facilmente, neste lockdown todos parecem um pouco mais relaxados, até as pessoas que seguiram todas as regras rigidamente durante o primeiro lockdown.
Estive a pensar nas razões que podem estar a afectar esta diferença e cheguei à seguinte conclusão:
As regras são mais relaxadas - durante o primeiro lockdown, o pedido foi para ficarmos em casa, pura e claramente, e só sairmos no máximo uma vez ao dia para fazer exercício e ocasionalmente para irmos às compras. Desta vez o Governo está a tentar manter os empregos que possa manter activos, pelo que não existe a mesma exigência de se estar sempre em casa, e como tal, mesmo as pessoas que podem trabalhar de casa, estão a aproveitar para sair sempre que quizerem.
As pessoas estão mais habituadas à ideia de viver numa pandemia - em Abril, este virús ainda era muito recente, conheciamos pouco dele, e a ideia de que se apanhava tão facilmente por tocar qualquer coisa, ou estar próximo de outra pessoa, afectou mesmo o comportamento dos indivíduos - Algumas pessoas paravam no corredor do supermercado à espera que outras escolhessem um produto, porque não queriam ter que passar junto a elas (eu deparei-me comigo própria a fazer isso por querer respeitar ao máximo a regra de 2 metros); outras limpavam profundamente todas as compras do supermercado (eu também fiz isso até recentemente, e de vez em quando ainda faço). Claro que também se via agrupamentos de pessoas no parque nos dias solarengos, mas mesmo assim verificava-se um certo respeito das regras de forma geral. Neste lockdown, parece que as pessoas simplesmente se habituaram a viver numa pandemia, e que portam não estão tão cuidadosas. Todos andam com as suas máscaras, uma em cada mala ou casaco, para não se esquecerem delas, e todos os que podem trabalhar de casa estão a fazê-lo, mas aparte disso,... vê-se muito pouco de lockdown por Londres. Este fim-de-semana que foi solarengo, os parques estavam cheios, todas as ruas com lojas agradáveis onde existam cafés e restaurantes abertos para takeaway, tinham filas de metros; certas zonas no centro de Londres estava ao rubro, e não se via muito essa sensação de que as pessoas estavam a fazer um esforço para se desviar umas das outras, como faziam por altura de Abril. Mas todos querem aproveitar o seu fim-de-semana, e com certeza de que não saem de casa a pensar que querem ir para um ambiente cheio de pessoas, mas como todas pensam da mesma forma, é esse o resultado.
Victoria Park no meio do lockdown a 22/11
A ideia de uma vacina para breve- já foi anunciado que foi encontrada uma vacina que tem probabilidade de oferecer um certo nível de segurança contra a prevenção do virús, o que levou a um certo optimismo da população, e muitos parece que ajem como se essa vacina já estivesse a ser distribuída.
Encontramo-nos na altura de festas do ano - estamos na altura do ano reconhecida pelas suas festas - geralmente o mês de Novembro enche-se de festas de prémios profissionais, começam as festas de Natal, começam os encontros de grupos de amigos no pub para variadas celebrações natalícias e pub roasts. E como as pessoas já perderam todas as festas e animação de verão, não estão dispostas a perder também toda a animação da época Natalícia.
Nota-se uma atitude diferente, e o que imagino que vá acontecer se o Governo estender o lockdown para além do dia 2 de Dezembro, será que muitas pessoas simplesmente discordem com a situação e quebrem as regras. E o problema de fazerem isso é que, uma vez que quebrem regras maiores como essa (neste momento só estamos autorizados a escontrar-nos com um amigo fora de casa), será mais fácil às pessoas continuarem a quebrar regras após o Natal. E o Governo sabe disso, elo que deve querer evitar que isso aconteça. O que eu penso que vai acontecer é que, o lockdown não vai ser estendido depois de dia 2, ou se tiver que ser estendido será somente em certas partes do país onde os casos estejam mais significativos, o que não é o caso de Londres. Mas imagino que passemos à regra de 6, como o número máximo de pessoas com quem nos possamos encontrar em espaços ao ar-livre, excepto durante a semana do Natal onde nos poderemos encontrar dentro de casa para a celebração do Natal. Imagino que para o Ano Novo apenas voltem a ser permitidos encontros ao ar-livre para evitar grandes festas em casa. Dessa forma, também se está a ajudar os negócios durante o mês do ano em que tradicionalmente têm mais lucro, o que lhe poderá ajudar a compensar os custos que têm tido durante os meses de lockdown. Com isto tudo, quando chegarmos a Janeiro, possivelmente os casos vão novamente aumentar, e entramos novamente em lockdown. Não é a mais positiva, mas é a minha previsão para os próximos dois meses. Concordam com esta previsão?
E lá foi anunciado novamente! Mais uma vez vamos ter que entrar em lockdown. Em Portugal vai ser a partir de quarta-feira, e no Reino Unido vai ser a partir de quinta-feira. Novamente todos os pubs, restaurantes, cabeleireiros e lojas não essenciais vão voltar a fechar durante pelo menos um mês aqui pelo Reino Unido até dia 2 de Dezembro.
Outra vez....
Durante a tarde quando estavamos à espera do anúncio, os meus grupos de WhatsApp não paravam de falar sobre o assunto, e especular o tipo de lockdown. Quando eventualmente foi anunciado, já ninguém quiz dizer nada. Pararam os comentários porque de repente todos tivemos a realização de que isto vai mesmo acontecer novamente e vai ser intenso novamente. E desta vez estamos no inverno o que torna as coisas ainda piores porque nem vamos ter a possibilidade de ir passear todos os dias para apanhar sol.
Eu própria sinto-me a ir a baixo um pouco com o anúncio. Eu sabia que era mais ou menos esse o anúncio que iria ser feito mas acho que ainda tinha esperança que não fosse tão restricto assim. Já vimos os efeitos negativos que o primeiro lockdown trouxe a tantas pessoas e negócios, mas OK, lá teve que ser. Neste momento, apesar dos casos estarem a aumentar, as mortes são consideravelmente mais baixas. Faz sentido voltar à mesma situação em que estavamos em Março e voltar a colocar tanta pressão no país novamente? Não sei. Não sei o que pensar de momento. A minha mente está a mil e como tudo acabou de acontecer ainda estou a assimilar a informação e ainda me custa acreditar que isto vai mesmo acontecer novamente.
Este ano já tem sido um ano de nada, um ano sem viagens, sem festas, sem grandes agrupamentos de amigos, um ano de muita calma e de certa monotonia. Mas ao menos estavamos numa fase em que nos podiamos encontrar com o amigo ocasional, ir a restaurantes, ir ao pub. Agora não podemos fazer nada disso novamente? Peço desculpa pela negatividade do post de hoje, mas custam-me estas notícias. E notícias essas oferecidas também na noite de Halloween. Muito oportunas para o tema da noite.
Eu sei que vou ter que aceitar e ter que me habituar porque não há nada que possa fazer contra, mas hoje estou chateada. Tenho o direito de estar chateada com estas notícias, e é assim mesmo que vou ficar para já. Preciso deitar para fora este sentimento. Não concordo, não gosto, não quero, e tenho o direito de discordar.
Para os leitores que seguem o Tuga em Londres à algum tempo, concerteza que não se vão admirar de eu ser das primeiras pessoas a fazer visitas aos retalhistas após o lockdown. Mal podia esperar! Fico também muito grata por todas as pessoas que não pensam como eu, porque isso faz com que os retalhistas, neste momento estejam confortáveis e com muito espaço para se poder fazer o distanciamento social que se pretende. Não sei se a mesma coisa se vai verificar quando o bom tempo voltar a Londres, mas pelo menos, para já, tenho gostado das minhas experiências nos retalhistas.
Não fui logo no sábado, quando as restrições foram levantadas, mas no Domingo, quando estava a voltar a casa de uma passeio de bicicleta, enviei uma mensagem ao meu Inglês, se queria voltar ao nosso pub local. Fazia parte da nossa rotina de Domingo, quando não tínhamos planos com outras pessoas, de passar uma ou duas horas no final do dia no pub local à conversa. O dia até que não estava muito frio, por isso lá fomos. No caso deste pub, ainda se mantém aberto apenas na zona exterior. Eles mantêm uma mesa à entrada do pub, que não permite a entrada de clientes, a não ser que queiram ir à casa-de-banho. Pedimos e pagámos as nossas bebidas e voltámos para o terraço. Quando chegámos, havia uma mesa vazia, e devo confessar que, se não houvesse nenhuma, nem sequer iria pedir a ninguém para partilhar mesa, apesar de serem mesas longas. Prefiro manter a tal distância e também não quero fazer ninguém desconfortável ao pedir para partilhar mesa. Mas lá ficámos durante um pouco de tempo a apreciar o momento em que podemos voltar ao nosso pub local depois de todos estes meses. Não me senti nada desconfortável porque até estava a mais de 2 metros da qualquer outra pessoa.
No dia seguinte, no entanto, voltei a ir a outro pub com uns amigos e a experiência já foi mais próxima daquilo que se pode esperar de um pub durante os próximos tempos - tinham um sistema de um sentido para entrada e saída no pub, não era permitido estar parado em pé no meio do pub, e todos tinham que estar nas suas respectivas mesas, sentados a pelo menos 1 metro de distância das pessoas com quem estavam na mesa com quem não vivessem, e as mesas estavam todas espaçadas a mais de dois metros de cada uma. Isto também foi possível porque o pub em questão era bastante grande, com um grande terraço, onde estávamos. Não sei se funcionará tão bem em pubs mais pequenos. Outras coisas que notei diferentes, foi o facto de disponibilizarem gel para desinfetar as mãos, só poderem entrar duas pessoas de cada vez na casa-de-banho, e a colocação de setas e gráficos no chão para indicar o caminho a percorrer e a avisar do distanciamento de 1 metro necessário entre pessoas. novamente a experiência foi boa e senti-me perfeitamente segura em termos da distância necessária das outras pessoas.
Hoje, tive a minha primeira experiência de passar a tarde num café. Escolhi o Mare Street Market em Hackney porque tem um espaço enorme, e ainda não me sinto confortável para me sentar num café pequeno. Adoro estar a fazer os meus projectos no computador enquanto estou num ambiente de café, e sinceramente já estava mais que farta de estar a olhar para o mesmo local em casa, todos os dias, durante todos estes meses. Mais um bocado e dava em doida! Aqui foi o primeiro estabelecimento em que efectivamente fiquei lá dentro, por isso optei por me sentar numa mesa alta virada para a janela porque ali sabia que ninguém se iria sentar ao meu lado, e também não estava a ocupar uma mesa grande. A gerência também tinha tudo muito bem organizado - as pessoas têm que esperar para ser sentadas pelo staff, o que certifica que ninguém se vá sentar a menos de um metro de mais ninguém. Lá dentro também há um sistema de um sentido orientado por setas no chão, existe um limite de 6 pessoas por casa-de-banho (por existirem 6 cubículos), e na zona do Deli, todas as sandes e saladas estavam cobertas por um plástico, havia um painel de vidro entre os clientes e os empregados de forma a distanciar-nos e também ofereciam desinfectante para as mãos à entrada. Durante o tempo que lá estive, também me senti super confortável sem qualquer problema em que as pessoas conseguiam manter a distância e algumas mesas, até estavam vazias.
Saída de lá, fui para o cabeleireiro. OK, isto a escrever assim tudo, até parece que não tenho feito mais nada do que ir a retalhistas, mas calhou serem visitas próximas e, enfim, tinha saudades de me sentar num café e num pub. Só não tinha saudades do cabeleireiro mas esse foi mesmo por necessidade. No caso da experiência no cabeleireiro, esta foi um pouco diferente porque é mais difícil manter o distanciamento. Os trabalhadores estavam todos de máscara, mantinham a porta aberta para entrar o ar, e também tinham gel desinfectante disponível, mas por exemplo, quando lavei a cabeça, tive que tirar a minha máscara durante a lavagem para que fosse possível tirarem a tinta, e claro que, todo o tempo, alguém estava junto de mim para me tratar do cabelo. Houve um pouco menos conversa do que o normal porque, não só a máscara é inconveniente para se ter uma conversa, mas também existe mais perigo de transmissão quando se está a falar, por isso a conversa falhou. E também não houve a oferta do café ou chá habitual, nem haviam as revistas de fofoca do costume para ler, tudo com o seu intuito de evitar que várias pessoas toquem no mesmo material. Mas gostei de ver que, quando a cliente anterior a mim saiu, desinfectaram a cadeira e a prateleira em frente com um spray e outro produto. Mesmo assim, com todos os cuidados, se tivesse que escolher a experiência retalhista que achei menos segura, teria mesmo que dizer que as condições no cabeleireito foram as que me trouxeram menos segurança, mas acho que isso tem mesmo a haver com a natureza de proximidade que é inevitável nesta situação.
Gostei de ver como os diferentes retalhistas estão a adaptar-se às mudanças e estão a tentar proporcionar as melhores condições possíveis para a segurança de todos nós.
Uma das coisas boas relacionadas com o Covid-19 de que se tem ouvido muito falar tem sido a entreajuda entre pessoas, com os vários grupos de voluntários entre vizinhos e outras comunidades a surgirem para apoiar as pessoas que mais necessitam de que já falei aqui e também aproximou pessoas que já se conheciam mas que se mantiveram mais em contacto durante o lockdown, sobre o que falei aqui. Por outro lado, apercebi-me no outro dia que, ao longo deste tempo, também tenho presenciado exactamente o oposto. E sinto isso mais ainda, agora que começamos a sair do lockdown. Sinto que as pessoas tanto têm estado unidas quanto têm estado mais sensíveis e críticas às atitudes dos outros, chegando até a ser abusivas umas com as outras.
Comecei então a pensar nos vários eventos em que encontrei esse tipo de abuso:
#StayTheFuckHome foi uma campanha lançada durante o lockdown e que foi utilizada não só em países de língua inglesa, mas como outros, inclusive em Portugal. O objectivo - incentivar as pessoas a ficarem em casa, e consequentemente ajudar a não espalhar o virús. Tudo perfeito quanto ao objectivo. Mas reparem na escolha de palavras - Stay THE FUCK home. Porque é que teve que ser adicionado o 'the fuck'? O governo e o NHS tinham lançado já a campanha #StayAtHome que transmite exactamente a mesma mensagem. O facto de se adicionar o 'the fuck' transmite logo um factor negativo e rude à campanha. E consequentemente, sendo que as pessoas viram tanto essa campanha, é normal que sentirem que fazer essa exigência é perfeitamente aceitável, e que é perfeitamente aceitável de certa forma 'maltratar' os outros ao utilizar palavras tão fortes (pode não ser um maltrato físico, mas não deixa de poder ter consequências negativas para quem o recebe). E agora algum de vocês perguntam - "mas o que é que tens contra isso? Não achas que foi correcto as pessoas ficarem em casa?" - Claro que sim. Concordo plenamente que isso tenha sido uma medida necessária. Mas para algumas pessoas ficar em casa o tempo todo não é uma hipótese tão fácil como para outras - possivelmente para as pessoas que vivem sozinhas ou que vivem com pessoas com quem não se dão bem tenha sido mais difícil passar o lockdown, do que pessoas que vivem com parceiros e em famílias felizes. Pessoas que vivem em más condições, em quartos pequenos, com famílias abusivas, todas elas terão achado mais difícil passar todo o tempo em casa do que os outros que vivem em casas grandes, com espaço, jardim privado e afins. E agora imaginem serem uma dessas pessoas que precisavam mesmo de sair um pouco mais que a maioria para o bem da sua saúde mental, e ser bombardeados com a mensagem 'stay the fuck home'.
Envergonhar pessoas nas redes sociais por terem ido a zonas de afluência de pessoas durante o lockdown - quase todos os fins-de-semana via-se imagens a percorrer as redes sociais dos parques de Londres cheios de pessoa, o que levava a um total choque por parte de todas as outras pessoas que viam essas imagens e que começavam a escrever todo o tipo de mensagens abusivas nas redes sociais. E tenho que confessar que eu própria partilhei uma imagem de um parque cheio na altura do lockdown que também achei péssimo (mas não fiz comentários abusivos). Mas agora olhando para trás e pensando melhor sobre o assunto - se as pessoas não fossem a esses parques será que conseguiam andar até outro local que lhes trouxesse a mesma sensação de calma que um parque? É normal que as pessoas escolham o seu local de passeio como o local próximo que seja mais bonito, mais calmo, e geralmente, na maioria dos conselhos de Londres, esse local será o parque. E também, as pessoas não sabem se o parque vai estar cheio antes de lá chegarem, e mesmo que cheguem e vejam que estejam lá muitas pessoas, desde que sintam que estão com mais de 2 metros de qualquer outra pessoa, sentem-se seguros e continuam o seu passeio. E a outra situação é que as próprias pessoas que partilhavam fotos dos parques cheios, também tinham estado no parque, portanto estavam a contribuir para o parque cheio.
Protestos - uma morte injusta de um cidadão dos EUA levou a que milhares de pessoas pelo mundo despertassem a anos de injustiça e viessem para as ruas em protesto para exigir mais igualdade e justiça. O que recebem? Abuso.
Festas clandestinas - agora que começaram a haver reduções de restrições começaram também a haver pessoas a fazer festas. Congregam-sem em casas, em parques e afins. As pessoas que foram até podem ter pensado que seriam festas pequenas, com distancia social, mas depois chegaram lá e tal, e se calhar a festa estava boa, e já há tanto tempo que não podiam ir a uma festa, e tinham saudades que deixaram-se estar. Receberam também abuso por ter ido às festas.
Abriram as lojas - E ao abrirem as lojas parece que as pessoas não têm podido comprar tudo aquilo que queriam online durante este tempo todo, que de repente as filas e encontrões para as pessoas visitarem centros comerciais, a Primark, a loja da Nike e tudo mais, foi uma loucura. O motivo das pessoas que foram? Talvez gostem muito da experiência de compras numa loja, talvez não gostem de comprar online. Mas o que receberam? Abuso!
Porque é que eu estou a escrever este post a defender esta gente toda que não cumpriu com as regras? Não estou. Não é esse o meu objectivo. O meu objectivo é alertar para o inúmero abuso que tem havido ao longo dos últimos meses. As pessoas são todas diferentes e todas têm os seus motivos para tomar certas atitudes com as quais, nem todos concordamos. Mas o nível de abuso de tem resultado não faz bem a ninguém - nem a quem o recebe, nem a quem o dá. As opiniões podem ser dadas. Críticas construtivas e discussões de pontos de vista devem continuar sempre a ser debatidos, mas não é preciso ser com abuso. E com a variedade de exemplos que dei deve dar para perceber que não são sempre as mesmas pessoas a quebrar todas as regras mencionadas. Aqueles que foram agora à Primark, talvez tenham estado a comentar abusos para os outros que estavam no parque durante o lockdown, e os que foram às festas possivelmente andavam a partilhar #staythefuckhome durante o mês de Abril. Basicamente, com este post apenas quero alertar para que pensem na melhor forma como dar a vossa opinião sem ser preciso utilizarem formas e palavras abusivas e confrontais negativas. Afinal, quem não desrespeitou uma única regra do governo durante esta pandemia até agora, que atire a primeira pedra.