Eu e o Credit Crunch
É oficial, o Reino Unido está prestes a entrar em recessão, por isso desengane-se quem pensa que a situação por cá é muito melhor do que a de Portugal nesta altura.
Tudo começou em Setembro do ano passado com a queda do Banco Northern Rock que nesse mesmo mês teve que ser nacionalizado com uma injecção de bilhões por parte do Estado para conseguir manter o negócio vivo e proteger os milhares de créditos imobiliários entre tantos outros investimentos.
Em Marco deste ano o banco de investimento Bearn Sterns também colapsa e é vendido ao Morgan Stanley por uma pequena quantia.
Já este mês, as organizações Fannie Mae e Freddie Mac, nos Estados Unidos, que mantinham cerca de $3trillioes em créditos imobiliários, tiveram que ser nacionalizadas para que conseguissem sobreviver.
A instabilidade do mercado financeiro, com a subida do valor do Euro comparativamente ‘a libra e o aumento do preço do óleo, faz com que pouco a pouco várias indústrias comecem a sofrer as consequencias. E a industria de turismo e viagens é geralmente uma das primeiras a sentir os efeitos. Só este ano já foram várias as empresas dessa industria que faliram. Entre os nomes que conheço posso indicar:
- Maxjet
- Silverjet
- Brilliant Weekends
- Oasis Hong Kong
- Zoom Airlines
-XL Airways & Travel (o terceiro maior operador turístico do Reino Unido)
- K&S
- A KLM foi adquirida pela Air France e a Alitalia está quase a falir também.
- A British Airways está em conversacoes para se juntar com a American Airlines.
- ...
Ontem, com o colapso do banco de investimento Lehman Brothers, para além dos seus 20,000 desempregados na America também em Londres quase 5,000 pessoas sairam do edifício de Canary Wharf pouco depois de terem entrado essa manha. Também ontem, outro grande banco de investimento, Merrill Lynch foi comprado pelo Banco da America, o que irá levar a fortes cortes nos empregos também neste caso. A empresa seguradora AIG ainda se está a tentar “safar” mas está a ver tudo por um fio.
Os acontecimentos de ontem levaram a que os Media classificassem o dia como a “Melt down Monday”, e após os £5billioes injectados no mercado financeiro ontem pelo Banco de Inglaterra, hoje outros £20billioes tiveram que ser injectados como forma de procura de estabilidade. £20billioes!!! Só aqui para o Reino Unido. Esse foi dobro do valor que foi injectado ontem pela Uniao Europeia para todos os países da UE!!
E depois, claro que estes acontecimentos nos vao afectar a todos. A comecar pelos precos do gas e electricidade que já recebi uma cartinha lá em casa a avisar que sao forcados a fazer um aumento significativo dos precos. A EDF (a empresa que fornece o gás e electricidade lá em casa) como beneficio, diz que nos envia gratuitamente 4 lampadas economizadoras de electricidade, como forma a combater os largos custos. Wow! Dao-nos 4 lampadas por aumentarem significativamente os precos. Vai fazer muita diferenca. Obrigadinha! :-/
E quem fala nos custos das utilidades da casa, fala também do preço do gasoleo, dos transportes (que já anunciaram que vao voltar a aumentar novamente em Janeiro), da comida (o exemplo crítico é mesmo o custo do pao já que, em 2005, o pacote de pao de forma mais barato custava £0.24 e ontem, quando fui ao supermercado ver o preço do pao equivalente estava a £0.86), e dos custos de vida de uma maneira geral.
Preocupada? Claro que estou preocupada. Possivelmente as pessoas que estejam numa área que nada tenha a haver com a financeira nao sintam nada para além do custo das compras do dia-a-dia, mas no meu caso uma das unidades de negócio da empresa onde trabalho é mesmo o financeiro, e estamos todos a ver a nossa vida a andar para trás quando anunciam que outro dos nossos clientes está a entrar em administracao.
O dia em que a XL faliu, na semana passada, foi o crítico. Foram mesmo os meus colegas que me informaram assim que cheguei ao escritório nessa manha – “Have you heard the news? XL went bust today”. Passamos o resto da manha calados nas nossas secretárias. Todos sabemos que a XL era um dos nossos clientes mais importantes. As pessoas mantem-se com um ar stressado, houvem-se conversas nos corredores, e existe uma sensacao de incerteza no ar neste momento que nao existia ‘a duas semanas atrás. A questao que se coloca neste momento na cabeca de todas as pessoas é: será que vamos conseguir sobreviver como empresa? E a resposta é: Nao sei.
Um comentador disse nas notícias hoje algo de que ainda nao me esqueci e que era mais ou menos assim: “The credit crunch is upon us and we will all have to deal with it, wether we like it, or not.”