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Tuga em Londres

A vida de uma Lisboeta recentemente Londrina.

Mais uma semana até ao princípio do fim

Daqui a uma semana e 3 dias as primeiras lojas não essenciais vão finalmente poder abrir. Entrámos no nosso terceiro confinamento aqui em Inglaterra a 5 de Janeiro e, desde essa altura que as lojas não essenciais não voltaram a abrir, que não podemos viajar, que não nos podemos encontrar com mais do que um amigo fora de casa. Faz mais de 4 meses nesta situação em que os nossos dias, noites, fins-de-semanas são idênticos ao outro anterior. Foram 4 meses em que temos estado a viver o 'Groundhog Day' continuamente. Só que em vez de passarmos o dia num festival cheio de pessoas onde temos a oportunidade de socializar e conhecer cada pessoa melhor, passamos os dias a fazer passeios sozinhos ou com as pessoas que vivemos, a ouvir podcasts, tentar ser imaginativos com a culinária e ver séries sem fim no Netflix. 

 

 

Devo dizer que este ano permitiu-me conhecer melhor a zona onde vivo do que nos 6 anos anteriores em que já estava na zona. Neste momento penso que já não há qualquer rua num rádio de 5 km por onde ainda não tenha passado. Isso é positivo não é? Sempre é bom conhecer bem a zona onde se vive. Não seria bem o que teria escolhido fazer num ano normal mas há que olhar pelo lado positivo da coisa.

 

Esta fase também nos ajudou a parar e pensar mais na vida que vivemos, o que alcançámos e o que ainda queremos alcançar. E devo dizer que, pelas conversas que tenho tido com muitas pessoas, isso não tem sido necessariamente uma actividade positiva. Afinal, quando temos uma vida ocupada e não estamos a atingir aquilo que queremos - quer seja o trabalho que fazemos; o lugar onde vivemos; estarmos a partilhar a nossa vida com a pessoa certa; ou fazer o projecto que temos planeado à anos - temos uma desculpa para não os termos atingido porque estamos demasiado ocupados. Agora de repente temos tempo. Tivemos um ano inteiro de tempo, e apesar de haver o desconfinamento em vista, não temos a certeza total de que efectivamente vamos voltar à normalidade que conhecíamos em 2019 para breve. E com todo este tempo é inevitável que tenha havido muita ansiedade, depressão, incertezas, porque não são muitas as pessoas que podem dizer que está tudo bem com elas e que têm a vida exactamente como elas queriam. Pelo contrário, acho que nunca ouvi tantas pessoas dizerem num espaço de tempo tão pequeno de que esta não era a vida que imaginaram para elas. 

 

Conheço quem se queira divorciar porque se apercebeu, com o confinamento, que estar 24horas com o pai do filho só lhe traz desgosto; quem decidiu que vai ser mãe solteira porque quer mais que tudo ser mãe mas que já não sente qualquer esperança de ter tempo para  conhecer o futuro pai dos filhos a tempo de engravidar enquanto ainda é jovem o suficiente para o fazer com segurança; conheço quem se apercebeu que escolheu a carreira errada mas que enquanto não sairmos do confinamento não pode fazer uma mudança; conheço também quem tenha decidido optar voltar ao trabalho que tinha deixado à anos atrás porque o confinamento não lhe permitiu continuar a seguir o seu sonho;conheço também quem tenha visto os seus negócios aceleraram de uma forma que nunca teria acontecido se não fosse a pandemia e que, agora estão muito melhor financeiramente do que o que estavam à um ano atrás; conheço quem decidiu mudar-se para o campo para poder ter o espaço e o conforto que acha que nunca vai poder ter na cidade;  conheço também quem se tenha enroscado de tal forma em casa com receio e ansiedade de apanhar o vírus que agora se sente altamente desconfortável por sair de casa e não gosta da ideia de voltar a encontrar-se com pessoas. 

 

Esta pandemia trouxe-nos mais que muitas mudanças na vida e dúvidas que colocaram em perspectiva e em questão as nossas decisões. Tem havido muita tristeza associada com tudo isto mas eu espero que este ano de introspecção, nos ajude a termos força para podermos tomar as decisões que precisamos de tomar para fazermos as mudanças que sejam necessárias baseadas naquilo tudo que andámos a pensar e que concluímos. Somos nós os donos das próprias vidas e devemos vive-las como quisermos pelo que espero que daqui a um ou dois anos, quando olhar para trás para este período, em vez de apenas pensar em todas as coisas negativas que estão intrinsecamente associadas a este período, que consiga também ver as mudanças que eu e as pessoas que me envolvem fizeram para melhorar de uma forma ou outra aquilo que achámos que não estavam bem certo. 

 

Entretanto só espero que o Governo Britânico esteja correcto, e que este terceiro confinamento que estamos quase a terminar, tenha sido mesmo o último para podermos finalmente passar esta fase e sair do 'Groundhog Day'. A ver vamos...

Até me esqueço que tinha férias para tirar

Esta coisa do lockdown e de ter quase tudo fechado durante meses a fio significa que as únicas férias que tirei até agora foram mesmo as do Natal e o meu dia de aniversário. Mesmo assim, tinha férias a mais e muito que fazer no trabalho, portanto acabei por decidir passar 4.5 dias de férias do ano passado para este ano, esperando que antes da sua data de prazo (dia 1 de Abril) eu poderia tirá-las para ir passar uma semana numa casa de campo algures pela Inglaterra, mas qual quê. Vamos entrar em Abril e ainda não há hipótese de se ir para lado nenhum. Esqueci-me completamente do prazo até meados da semana que passou. Já estávamos a meio de Março e estou com imenso trabalho por isso não me estava nada a ver a conseguir tirar os tais 4.5 dias a que tinha direito, mas também não os queria perder totalmente. Nesta empresa também não permitem pagar férias que não tenham sido utilizadas por isso estou mesmo numa daquelas situações de 'use it or lose it'. Decidi tirar dois dias e, como tal, vou ficar com um fim-de-semana prolongado na próxima semana e, novamente na semana seguinte, por ter os feriados da Páscoa. Como tal, esta semana que vem trabalho 4 dias e na seguinte trabalho só três. Acho que vai saber bem aproveitar pelo menos dois dos dias a que tinha direito, mas de facto o lockdown tira um pouco a satisfação de ter férias. 

 

Para já estou a planear fazer um passeio de bicicleta num dos dias, e no outro planeio dedicá-lo a um projecto que comecei no primeiro lockdown do ano passado. Como esse projecto envolve estar sentada ao computador como em qualquer outro dia de trabalho acho que não vai saber bem a férias, mas enfim. Numa situação normal, iria levar o portátil para um café, e trabalhava de lá que sempre tornava a experiência diferente do dia-a-dia, mas como ainda faltam dois meses para me poder voltar a sentar dentro de um café, vou mesmo ter que me sentar no meu local habitual. Ou quem sabe, talvez altere um pouco a posição da mesa só para me sentir num ambiente ligeiramente diferente do ambiente de trabalho  Aii, estou tão farta disto que nem os dias de férias são dos mais entusiasmantes, mas é um último esforço - mais dois meses para voltarmos a um situação um pouco mais próxima da normalidade 

 

Numa nota mais positiva, se houver algum leitor do blog que seja baseado no Este de Londres, descobri esta semana um novo serviço local de entrega de compras de supermercado que entregam em 10 minutos, inclusive produtos de lojas locais, e não utilizam plásticos para a entrega. Como são um serviço novo em Londres estão a fazer um desconto de £10 em qualquer ordem (sem ordem mínima). Achei bem bom (estas são o tipo de coisas que me deixam entusiasmada no lockdown - qual é o novo serviço de entrega ). Para os interessados este é o Gorillas App, e podem utilizar o código LDN10 para receberem o desconto.

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Vê-se a luz ao fundo do túnel

Esta semana foi anunciado o plano para terminarmos com o confinamento no Reino Unido com o objectivo de que, uma vez que sairmos, não vamos voltar novamente ao confinamento. O Governo tem a confiança de poder dizer isso tendo em conta a velocidade a que as vacinas estão a ser administradas e, porque espera que todos os adultos no Reino Unido tenham recebido a sua vacina em Julho. Eu e todos esperamos que o Governo esteja correcto desta vez, mas imagino que só vai conseguir atingir o nível esperado de controlo do vírus se mantivermos as viagens internacionais limitadas e com teste e quarentena obrigatórias como estão a fazer na Austrália. Sinceramente, prefiro não sair desta ilha por mais um ano mas poder viver uma vida o mais normal possível aqui dentro do que me deixarem ir viajar e com isso, encontrarmo-nos constantemente numa situação de surjo de infecções.

 

Então este foi o plano anunciado:

  • 8 de Março: as escolas voltam a abrir (imagino que todos os que têm crianças estejam mais que satisfeitos com estas notícias)
  • 12 de Abril (ou depois desta data): retalhistas não essenciais e ginásios podem abrir. Bares, pubs, restaurantes podem servir pessoas em zonas exteriores. Eventos ao ar-livre de drive-in podem abrir. Acomodação de férias individuais também podem abrir (ou seja hóteis ainda não vão ser permitidos porque os hóspedes partilham o espaço interior mas casas individuais alugadas por inteiro podem abrir)
  • 17 de Maio (ou depois desta data): Eventos ao ar-livre com um máximo de 30 pessoas podem decorrer. Dentro de espaços fechados podem-se encontrar no máximo 6 pessoas ou duas casas (se o número fôr maior que 6). Aulas de exercício, cinemas, hoteis podem abrir, e os estádios podem começar a receber público até metade da sua capacidade.
  • 21 de Junho (ou depois desta data): Final das restrições

Para informações mais detalhadas sobre o que pode e não abrir, vejam o site oficial do governo Britânico.

O resultado da informação anunciada levou a que a população começasse a marcar tudo o que é acomodação de férias e festival do verão pelo que muitos dos festivais já estão esgotados e tenho pesquisado por acomodação de férias que também já está esgotada até Setembro. Claro que todos estão com muita vontade de tirar férias e sair do seu ambiente à volta de casa por isso é inevitável esta reacção do público. Agora se os grandes eventos tais como os festivais vão mesmo decorrer este verão, isso é que ainda estamos para ver. 

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O que quero fazer quando a pandemia terminar

Já estou farta desta pandemia até aos olhos. Estamos todos, eu sei! Temos que ter paciência e aguentar este último esforço (esperemos que seja o último) nos próximos meses para conseguirmos ultrapassar a situação com o mínimo possível de afectados. 

 

Até lá podemos sonhar com o que vamos fazer quando a pandemia terminar. No outro dia perguntaram-me o que seria o top 3 das actividades que pretendo fazer quando puder, e não foi preciso parar para pensar no assunto:

  • abraçar amigos e família, muito forte e muitas vezes;
  • fazer uma grande festa com amigos daquelas que começam num dia e acabam na manhã seguinte. Vai incluir cumprimentar pessoas novas com dois beijos, conversar com muitas pessoas a menos de 1 metro de distância que a festa vai ter tantas pessoas que vai estar tudo um pouco apertado, rir muito e dançar o resto da noite;
  • viajar! Para longe e sem ter que usar máscara durante o percurso.

 

E acho que não sou a única que tem esse objectivo de ir a festas após a pandemia. No outro dia achei interessante ler este artigo sobre a predição do epidemiologista Dr Nicholas Christakis que, baseado no estudo dos efeitos sociais após pandemias anteriores, ele prevê que, novamente vai surgir uma euforia de actividade social, tal como houve nos anos 20, após a Febre Espanhola, com o surgir dos roaring 20s. E acredito perfeitamente que o desejo de socialização vai levar a um movimento semelhante. Desta vez não será ao som do Charleston, mas imagino que um tipo de música com batida igualmente rápida venha a ser predominante dessa futura era. Imagino até, que existem muitos músicos neste momento, que estejam a tentar criar o novo estilo musical que venha a ser representativo dessa fase. 

 

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Segundo o Dr. Christakis, tal efeito ainda vai demorar a chegar, visto que, antes disso, ainda se vão sentir os efeitos da depressão económica, e portanto, só por 2024, se venham a verificar os novos roaring 20s do século XXI. Desanimou-me um pouco a ideia de que tal venha a demorar ainda tanto tempo a acontecer, mas, caso a sua predição seja correcta, mais vale tarde do que nunca. 

 

Já pensaram também naquilo que querem fazer quando a pandemia terminar? Como esta pandemia afectou tanto tipo de actividade, vão com certeza existir muitos desejos diferentes. Até lá, há que ter paciência, e continuar a sonhar. 

Lockdown Parte III

E entramos no terceiro lockdown. Isto já começa a ser tão habitual que já nem me admiro. Como Londres já estava no Tier 4, que era o que tinha restrições mais elevadas em que as lojas, bares e restaurantes estava já tudo fechado, não me faz muita diferença este novo lockdown, mas tem a grande desvantagem de que agora voltamos à situação em que estavamos em Março, em que não devemos sair à rua, a não ser por razões essenciais, e não nos podemos encontrar com amigos para socializar. No Tier 4 ao menos, passear com amigos era permitido. 

 

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Estou eu e estamos todos mais que fartos disto, mas sinceramente, com as vacinas que agora estão disponíveis, e contando com o facto de que o Reino Unido foi o país que já encomendou mais vacinas per capita, sinto-me mais positiva de que há uma luz ao fundo do túnel, e que a partir da primavera vamos estar numa situação melhor com muitas mais pessoas protegidas, uma redução consideravel dos casos, e consequentemente, uma maior abertura das nossas vidas sociais novamente. Mal posso esperar! Até lá, bem, tenho mais umas quantas séries com que me entreter, um puzzle para acabar, e aprender a fazer muitos cozinhados veganos durante este mês que estou a fazer o 'veganuary'. Se estiverem interessados em ver as minhas criações veganas, espreitem as Stories do @tugaemlondres no Instagram. 

2020 em revista

Bem sabemos como este ano foi tão diferente para todos, mas o fim do ano é uma boa altura para olhar para trás, e reflectir em tudo o que aconteceu ao longo do ano - e no meio de tanta coisa má, com certeza vão encontrar momentos bons também que vos vão fazer aperceber que o ano não foi totalmente para esquecer, se bem que esquecer-nos deste ano será difícil de qualquer forma. 

 

Aqui fica a reflexão de como vi este ano passar:

Comecei o ano no desemprego, ao ser informada dos cortes que iam fazer na empresa.  São coisas que acontecem, mas logo comecei a aproveitar o tempo livre para fazer o CV e começar a enviar currículos. Ao fim das primeiras semanas, já tinha as primeiras entrevistas marcadas para quando viesse da minha lua-de-mel. Lua-de-mel essa que nunca chegou a acontecer. Ao voltar de alguns dias de descanso alternativos em Littlehampton, começou o lockdown, e foram eliminadas todas as entrevistas que tinha alinhadas. 

 

Durante os meses seguintes, foi o que se sabe - entrevistas eram mentira, por isso aprendi a fazer pão, e os seguidores do @tugaemlondres no Instagram ainda se puderam entreter a ver muitas das minhas criações na altura; comecei a fazer ponto-cruz (ainda não terminei o projecto que comecei no lockdown 1); dei imensos passeios a pé e de bicicleta; dediquei-me a um grande novo projecto que sempre quis fazer, mas que não consegui terminar antes de começar o novo emprego pelo que ainda se encontra na lista de coisas a fazer quando voltar a ter tempo; dediquei-me à jardinagem; e fiz imensas vídeo-conferências com amigos, que até este ano, praticamente só fazia com o trabalho ou com a família. 

 

Durante aquela fase pior do lockdown 1 onde tudo estava parado, houve muita conversa de angústia e sensação de solidão, mas quando se anunciou que o lockdown estava prestes a terminar ao fim das 6-7 semanas, as pessoas já se tinham habituado tanto a essa nova forma de vida que, de repente, identificou-se que muitas não queriam sair do lockdown e notou-se uma nova onda de angústia e depressão devido à incerteza do que estava para acontecer. 

 

Entretanto com a morte de George Floyd surgiu um novo movimento das Black Lives Matter que criou um surgimento de manifestações ao longo do mundo contra todas as regras do Covid pelas pessoas se aperceberem que era urgente actuarem. Houveram muitos problemas associados com essas manifestações, a população ficou muito dividida entre o estar certo ou errado fazer estas manifestações no meio de uma pandemia, queimar-se estátuas e afins de personalidades históricas que contribuiram para o tráfego de escravos e afins. Muitos disseram que se estava a mutilar importantes momentos da história. Sinceramente, na minha opinião, esse movimento fez história e já se vêm muitas repercusões positivas desde que este movimento surgiu. 

 

Quando o lockdown terminou estávamos a entrar no verão, e as actividades sociais com outras pessoas começaram a ser permitidas novamente, primeiro com encontros no parque permitidos, e a partir de meados de Julho, os restaurantes e pubs voltaram também a abrir. Também comecei a ter mais respostas às minhas candidaturas a emprego a partir de inícios do verão, o que eventualmente deu em resultado positivo.

 

Ao fim dos primeiros 100 dias desde que o lockdown começou fiz um post com fotos em revista que foi uma boa representação de como passei esse tempo. Os casos do coronavirus estavam a diminuir significativamente e havia um certo optimismo pelo ar.

 

Comecei o meu novo emprego em meados de Julho, e ao fim de 5 meses de lá estar, ainda só conheci fisicamente 5 colegas. Tem sido sem dúvida estranho estar num emprego que faço praticamente todo online, sem conhecer os meus colegas em pessoa, mas fico a aguardar o momento em que eventualmente vou poder conhecê-los, espero que seja algures em 2021. 

 

Entre um emprego novo e uma pandemia, acabei por não viajar para lado nenhum este ano, aparte de uns poucos fins-de-semana prolongados passados na zona do campo de Inglaterra. Foram bem passados mas devo dizer que estou ansiosa para poder fazer uma viagem mais prolongada e mais distante algures em 2021 (talvez? se for possível?).

 

Como tomamos a decisão de comprar casa nova, essa decisão também pode influenciar a nossa possibilidade de virmos a tirar férias. Afinal, precisamos de juntar o máximo de dinheiro que conseguirmos para comprar uma propriedade que gostarmos, e gastar dinheiro em férias parece uma frivolidade nesta altura. Custa-me pensar que talvez ainda não seja para 2021 que vamos ter a oportunidade de fazer a nossa lua-de-mel, mas, vai depender do valor da casa que encontrarmos, da pandemia, de muitas coisas. Não quero desistir da ideia de ter uma lua-de-mel, mas quando a vamos poder fazer é outra história.

 

Durante todo o ano, o único local onde parecia que não havia lockdown era Broadway Market, em Hackney. Muitas pessoas, inclusive eu, estavam chocadas ao início ao ver o número de pessoas que se encontravam naquela rua durante todos os dias, mas sinceramente, ao fim de tanto tempo e de tanto lockdown, sabia-me bem passar por lá e ver o rebuliço nas ruas, e ter uma sensação de normalidade ao passar por lá. Como os muitos bares, cafés e restaurantes têm estado abertos para takeaway durante quase todo o ano, as pessoas gostam de passar por lá, para ir comprar o café durante a manhã, o Aperol Spritz durante o verão ou o Mulled Wine nas noites frias de inverno e ficar em pé no meio da rua a conversar com os amigos. E não foi por isso que a zona de Hackney tenha estado mais infectada que outras, porque não o esteve de todo. Em certa altura no verão, Hackney era até uma das zonas com menos infectados de Londres, o que reflecte como a socialização em espaços abertos é bem menos contagiosa do que em espaços fechados. Foi quando soube desses números que me comecei a sentir mais confortável de passar por lá para aproveitar aquela sensação de normalidade. 

 

Relativamente às regras que se têm estabelecido ao longo do ano, estas têm criado muita controvérsia entre amigos - há aqueles que respeitam as regras ao extremo, os outros que não querem saber, e aqueles que tomam decisões mais moderadas entre aquilo que acham que podem ou não fazer. Todas as pessoas são diferentes e todas têm razões para pensar de uma forma ou outra, mas o importante é que respeitem as decisões uns dos outros. 

 

Já passamos o lockdown 2 em Novembro, e duas semanas depois fomos colocados no Tier 4 que, basicamente, equivalente ao lockdown 3 (ou será que nunca chegamos a sair do lockdown 2 e aquelas duas semanas foram todas uma mentira para nos dar um bocadinho de energia apenas para continuarmos em lockdown durante mais uns meses?) 

 

Com o anúncio das novas vacinas, primeiro pela Pfizer e agora também pela Astrazeneca, há mais esperança de que o fim esteja próximo. Ainda não vai ser para já, e apesar de hoje terminar o ano de 2020 oficialmente, acho que a sensação que temos tido este ano ainda se vai prolongar pelos primeiros meses do ano. Tenho esperança que o próximo verão seja diferente do verão de 2020 e que sejam permitidas mais actividades sociais, que o teatro e os concertos voltem a ser permitidos,... eu tenho esperança nisso e quero pensar positivamente que tal vai acontecer. Até lá, é mais um esforço. Continuar a respeitar ao máximo possível as regras que temos, para que a sensação de liberdade social posso voltar o mais cedo possível. 

 

Feliz Ano Novo e que volte a haver liberdade social em 2021 são os meus desejos para o mundo. 

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Viajar numa pandemia - ir ou não passar o Natal a Portugal?

Imagino que a maioria dos emigrantes como eu tenham feito a mesma pergunta a si próprios este ano - Vou ou não vou passar o Natal a Portugal? 

 

E ao fazermos essa pergunta, ouvimos as vozes na nossa cabeça conversar sobre o assunto. A primeira voz diz-nos - O Natal é para passar em família, e depois de tanto esforço que fizemos durante o ano, merecemos ao menos poder partilhar este momento com os nossos mais próximos. Se devemos abrir uma excepção ao longo de todo o ano, é esta a excepção a fazer. Eu não tenho o vírus, os meus familiares não estão com o vírus portanto, ao estarmos juntos não haverá problema de infecção. A não ser que apanhe o vírus a caminho de Portugal no voo cheio que vou apanhar. Mas isso será pouco provável, portanto o risco é pequeno.

E continua a segunda voz - Afinal passámos o ano inteiro a fazer inúmeros esforços para não ver a família e os amigos de forma a que todos ficássemos seguros e ajudar a evitar espalhar o vírus. Então, o que nos dá o direito de estragar todo o bem feito durante o ano e juntarmo-nos todos para levar a outro surjo de casos e consecutivamente o inevitável surjo de mortes? 

 

Continuei com este debate ao longo dos últimos meses. Tinha comprado o voo para passar o Natal em Lisboa já em Agosto, com as expectativas de que a situação talvez tivesse melhor nessa altura, mas esta semana que passou tive que tomar a decisão definitiva, e a decisão foi passar um Natal diferente longe da família. Não foi fácil, mas sei que me vou sentir melhor por tê-la tomado. Além de que, se fosse a Portugal, acho que ia passar o tempo a tentar distanciar-me dos meus pais o que seria muito estranho, portanto preferi evitar toda essa situação, e simplesmente continuar o ano como tem sido até agora - um ano mais solitário e estacionário do que qualquer outro. 

 

Os meus pais compreenderam perfeitamente quando lhes dei a notícia e acho, que de certa forma até estavam à espera que eu tomasse essa decisão. Sinceramente acredito que este vai ser o primeiro e último ano que vamos ter que tomar uma decisão destas porque com a vacina já a ser administrada, 2021 vai ser o ano da grande recuperação, e pelo Natal do próximo ano, já nos vamos poder voltar a abraçar sem remorsos, por isso vou esperar. 

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Como o segundo lockdown difere do primeiro

O país pode estar novamente em lockdown, mas a sensação deste lockdown 2.0, é certamente diferente do primeiro. Enquanto que no lockdown em Abril as pessoas ficavam a maior parte do tempo em casa, reservavam a sua via social a chamadas em video conferência, e tinham receio de apanhar o virus muito facilmente, neste lockdown todos parecem um pouco mais relaxados, até as pessoas que seguiram todas as regras rigidamente durante o primeiro lockdown.

Estive a pensar nas razões que podem estar a afectar esta diferença e cheguei à seguinte conclusão:

 

As regras são mais relaxadas - durante o primeiro lockdown, o pedido foi para ficarmos em casa, pura e claramente, e só sairmos no máximo uma vez ao dia para fazer exercício e ocasionalmente para irmos às compras. Desta vez o Governo está a tentar manter os empregos que possa manter activos, pelo que não existe a mesma exigência de se estar sempre em casa, e como tal, mesmo as pessoas que podem trabalhar de casa, estão a aproveitar para sair sempre que quizerem. 

 

As pessoas estão mais habituadas à ideia de viver numa pandemia - em Abril, este virús ainda era muito recente, conheciamos pouco dele, e a ideia de que se apanhava tão facilmente por tocar qualquer coisa, ou estar próximo de outra pessoa, afectou mesmo o comportamento dos indivíduos - Algumas pessoas paravam no corredor do supermercado à espera que outras escolhessem um produto, porque não queriam ter que passar junto a elas (eu deparei-me comigo própria a fazer isso por querer respeitar ao máximo a regra de 2 metros);  outras limpavam profundamente todas as compras do supermercado (eu também fiz isso até recentemente, e de vez em quando ainda faço). Claro que também se via agrupamentos de pessoas no parque nos dias solarengos, mas mesmo assim verificava-se um certo respeito das regras de forma geral. Neste lockdown, parece que as pessoas simplesmente se habituaram a viver numa pandemia, e que portam não estão tão cuidadosas. Todos andam com as suas máscaras, uma em cada mala ou casaco, para não se esquecerem delas, e todos os que podem trabalhar de casa estão a fazê-lo, mas aparte disso,... vê-se muito pouco de lockdown por Londres. Este fim-de-semana que foi solarengo, os parques estavam cheios, todas as ruas com lojas agradáveis onde existam cafés e restaurantes abertos para takeaway, tinham filas de metros; certas zonas no centro de Londres estava ao rubro, e não se via muito essa sensação de que as pessoas estavam a fazer um esforço para se desviar umas das outras, como faziam por altura de Abril. Mas todos querem aproveitar o seu fim-de-semana, e com certeza de que não saem de casa a pensar que querem ir para um ambiente cheio de pessoas, mas como todas pensam da mesma forma, é esse o resultado.

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Victoria Park no meio do lockdown a 22/11

A ideia de uma vacina para breve - já foi anunciado que foi encontrada uma vacina que tem probabilidade de oferecer um certo nível de segurança contra a prevenção do virús, o que levou a um certo optimismo da população, e muitos parece que ajem como se essa vacina já estivesse a ser distribuída. 

 

Encontramo-nos na altura de festas do ano - estamos na altura do ano reconhecida pelas suas festas - geralmente o mês de Novembro enche-se de festas de prémios profissionais, começam as festas de Natal, começam os encontros de grupos de amigos no pub para variadas celebrações natalícias e pub roasts. E como as pessoas já perderam todas as festas e animação de verão, não estão dispostas a perder também toda a animação da época Natalícia.

Nota-se uma atitude diferente, e o que imagino que vá acontecer se o Governo estender o lockdown para além do dia 2 de Dezembro, será que muitas pessoas simplesmente discordem com a situação e quebrem as regras. E o problema de fazerem isso é que, uma vez que quebrem regras maiores como essa (neste momento só estamos autorizados a escontrar-nos com um amigo fora de casa), será mais fácil às pessoas continuarem a quebrar regras após o Natal. E o Governo sabe disso, elo que deve querer evitar que isso aconteça. O que eu penso que vai acontecer é que, o lockdown não vai ser estendido depois de dia 2, ou se tiver que ser estendido será somente em certas partes do país onde os casos estejam mais significativos, o que não é o caso de Londres. Mas imagino que passemos à regra de 6, como o número máximo de pessoas com quem nos possamos encontrar em espaços ao ar-livre, excepto durante a semana do Natal onde nos poderemos encontrar dentro de casa para a celebração do Natal. Imagino que para o Ano Novo apenas voltem a ser permitidos encontros ao ar-livre para evitar grandes festas em casa. Dessa forma, também se está a ajudar os negócios durante o mês do ano em que tradicionalmente têm mais lucro, o que lhe poderá ajudar a compensar os custos que têm tido durante os meses de lockdown. Com isto tudo, quando chegarmos a Janeiro, possivelmente os casos vão novamente aumentar, e entramos novamente em lockdown. Não é a mais positiva, mas é a minha previsão para os próximos dois meses. Concordam com esta previsão?

Lockdown Parte II

E lá foi anunciado novamente! Mais uma vez vamos ter que entrar em lockdown. Em Portugal vai ser a partir de quarta-feira, e no Reino Unido vai ser a partir de quinta-feira. Novamente todos os pubs, restaurantes, cabeleireiros e lojas não essenciais vão voltar a fechar durante pelo menos um mês aqui pelo Reino Unido até dia 2 de Dezembro. 

 

Outra vez....

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Durante a tarde quando estavamos à espera do anúncio, os meus grupos de WhatsApp não paravam de falar sobre o assunto, e especular o tipo de lockdown. Quando eventualmente foi anunciado, já ninguém quiz dizer nada. Pararam os comentários porque de repente todos tivemos a realização de que isto vai mesmo acontecer novamente e vai ser intenso novamente. E desta vez estamos no inverno o que torna as coisas ainda piores porque nem vamos ter a possibilidade de ir passear todos os dias para apanhar sol. 

 

Eu própria sinto-me a ir a baixo um pouco com o anúncio. Eu sabia que era mais ou menos esse o anúncio que iria ser feito mas acho que ainda tinha esperança que não fosse tão restricto assim. Já vimos os efeitos negativos que o primeiro lockdown trouxe a tantas pessoas e negócios, mas OK, lá teve que ser. Neste momento, apesar dos casos estarem a aumentar, as mortes são consideravelmente mais baixas. Faz sentido voltar à mesma situação em que estavamos em Março e voltar a colocar tanta pressão no país novamente? Não sei. Não sei o que pensar de momento. A minha mente está a mil e como tudo acabou de acontecer ainda estou a assimilar a informação e ainda me custa acreditar que isto vai mesmo acontecer novamente. 

 

Este ano já tem sido um ano de nada, um ano sem viagens, sem festas, sem grandes agrupamentos de amigos, um ano de muita calma e de certa monotonia. Mas ao menos estavamos numa fase em que nos podiamos encontrar com o amigo ocasional, ir a restaurantes, ir ao pub. Agora não podemos fazer nada disso novamente? Peço desculpa pela negatividade do post de hoje, mas custam-me estas notícias. E notícias essas oferecidas também na noite de Halloween. Muito oportunas para o tema da noite. 

 

Eu sei que vou ter que aceitar e ter que me habituar porque não há nada que possa fazer contra, mas hoje estou chateada. Tenho o direito de estar chateada com estas notícias, e é assim mesmo que vou ficar para já. Preciso deitar para fora este sentimento. Não concordo, não gosto, não quero, e tenho o direito de discordar.

As novas restrições Covid até às 22h

A partir do dia 24 de Setembro que o Governo Britânico lançou novas regras aplicáveis a todos os restaurantes, bares e pubs - têm que encerrar às 10h da noite. A razão? O número de casos Covid tem aumentado exponencialmente e com esta nova regra estão a tentar reduzir o número de horas de actividades sociais e reduzir o tempo em que as pessoas passam a consumir alcóol, porque quando o alcóol está presente, esquecem-se as regras de distanciamento mais facilmente. 

 

O resultado? As ruas e os transportes públicos estão cheios ao bater das 22h, principalmente às sextas e sábados à noite. Não sei o quanto é que ajuda a redução das horas de operação dos estabelecimentos em comparação com um metro ou autocarro cheio de gente à mesma hora. Ao menos podiam ter separado um pouco os horários, e por exemplo fechar os pubs pelas 22h, mas os restaurantes só fechavam pelas 22:30h, para distribuir as pessoas um pouco mais e escolher o estabelecimento em que se come como o último a fechar. Mas não, fecha tudo ao mesmo horário, logo vai tudo para casa ao mesmo tempo que é para se misturar tudo muito bem nos ambientes fechados dos transportes públicos. Que bela ideia Senhor Boris  

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Fonte: AFP via Getty Images

Agora a última regra foi lançada ontem - que permite definir diferentes zonas do país pelo seu estado de gravidade de casos como zonas de perigo médio, elevado ou muito elevado. As zonas de perigo médio representam a maioria do país, e as regras aí mantêm-se com o facto destes estabelecimentos mencionados fecharem às 22h e poder haver um máximo de 6 pessoas num grupo. 

 

Para zonas de perigo elevado, vão também deixar de permitir haver encontros de pessoas de casas diferentes em locais fechados mas continuam a ser permitidos encontros de 6 pessoas em jardins privados. 

 

Para zonas de perigo muito elevado, os grupos de 6 pessoas apenas vão ser permitidos em lugares exteriores públicos como parques, os pubs e bares são obrigados a fechar a não ser que sirvam refeições, mas nesse caso, só será permitido o consumo de alcóol com as refeições. 

 

Ao menos as nova regras sempre ajudam um pouco a manter a actividade nas zonas menos afectadas, enquanto que aquelas com maior perigo tentam tomar medidas mais restritas para tentar evitar a transmissão. Mas essas regras são suficientes? Deviamos todos ter que andar com máscara na rua? Deviamos todos entrar já em lockdown novamente? Não me parece que essas duas últimas medidas sejam efectivas o suficiente, baseada no que se viu noutros países que foram super restritos com exigência de máscara em todo o lado, e mesmo assim os casos também lá estão a aumentar significativamente como é o caso de Espanha.  Quanto a um lockdown? Isso afecta tantas mas tantas pessoas de tão variadas formas quer a nível profissional, económico ou de saúde mental, que também não me parece que seja a solução ideal. 

 

O melhor para já, quaisquer que sejam as regras, talvez seja mesmo tentarmos todos evitar esse contacto social próximo ao máximo possível para conseguirmos manter a sociedade que temos no momento e continuar a viver com este virus até se encontrar uma vacina ou uma forma de teste regular, eficiente e rápida para todos. Quanto tempo vai demorar ninguém sabe ao certo mas só espero que a situação não continue a piorar como se prevê.