Festas de rua Inglesas - Uma tradição que quis abraçar
As festas de rua são altamente populares durante o verão um pouco por todo o país. Frequentemente são associadas a celebrações reais tais como a coroação do rei Charles que decorreu em Maio, ou a um casamento real etc., mas não é só para acompanhar esses eventos que se fazem festas de rua. Cada vez mais, com a divisão de opiniões no país relativamente à existência de uma família real, até se considera melhor fazer estas festas em alturas diferentes das festividades reais. Afinal, o objectivo principal é mesmo para que as comunidades locais se possam conhecer e fazer novas amizades entre vizinhos.
As ruas onde mais facilmente se fazem festas são aquelas que já tenham pouco trânsito e que não oferecem problemas para fechar durante uma tarde. Apesar de já ter vivido em ruas com essas características antes, talvez por serem ruas onde maioritariamente viviam pessoas em casas partilhadas, nunca ninguém iniciou as tais festas de rua e eu também nunca tinha pensado nisso, até me mudar para a rua onde resido actualmente.
Quando me mudei para a zona e comecei a conhecer alguns dos vizinhos, disseram-me que antes da pandemia costumavam fazer festas aqui na rua. Eram festas simples - alguns dos vizinhos decidiam uma data, colocavam cartas nos correios para informar os outros e, no dia, as pessoas saíam à rua, colocavam algumas cadeiras e mesas em frente das suas casas, cada um trazia uns comes e bebes e entretinham-se a comer e beber na rua enquanto conversavam com os vizinhos. Perguntei se existia algum grupo de residentes ou no WhatsApp ou no Facebook para poder conversar com os outros vizinhos sobre a possível ideia de se reavivar a tal festa de rua, mas tal grupo nunca existiu. Achei que era pena porque, estar em contacto com os vizinhos tem muitas outras vantagens, tais como haver uma maior noção de comunidade e possibilidade de nos ajudar-mos uns aos outros, quer em caso de perigo ou para partilhar informações úteis tais como recomendações locais, electricistas, carpinteiros, poder oferecer produtos que uma pessoa não precise mas que seja útil para outra, etc. Então rapidamente cheguei à conclusão de, que se queria ter esses benefícios de fazer parte de uma comunidade local, teria que começar por criar um grupo para conversa entre vizinhos.
E assim fiz. Escrevi uma nota a apresentar-me e a sugerir a criação de um grupo de WhatsApp. Coloquei as notas em envelopes e fui distribuí-las na caixa de correio de todas as casas. Devo confessar que nessa manhã em que decidi distribuir as notas fiquei um pouco na dúvida se devia ou não fazê-lo. Afinal, os vizinhos podiam preferir não conhecer os outros vizinhos e manter-se mais privados. Mas no fim, cheguei à conclusão de que quem não quisesse juntar-se ao grupo simplesmente podia ignorar a minha nota, mas ao menos, para os interessados, podíamos começar a comunicar. E sinceramente, não queria ficar com aquela dúvida do resultado que a minha nota ía receber, por isso já não podia voltar atrás e lá fui porta-a-porta entregá-las.
Dentro da primeira meia-hora de ter colocado as notas nas casas comecei a receber as primeiras mensagens a demonstrar interesse em juntarem-se ao grupo. Duas pessoas, com idade mais avançada, telefonaram-me nesse dia com o interesse de conversar e contar-me um pouco sobre a história da rua. Pelo fim do dia cerca de 7-8 pessoas tinham respondido à nota. E na semana seguinte fui recebendo mais mensagens cada dia. Uma semana depois, no início de Abril, criei o grupo, e neste momento já temos 52 pessoas no grupo.
Começamos a conversar sobre a festa de rua, e a maioria votou para um Sábado em Junho. Pedi por voluntários para ajudarem na organização, e ao fim de uma reunião, muitas mensagens e alguns telefonemas, estava tudo pronto para o dia da festa. Até a Junta de Freguesia tinha-nos deixado uns sinais de trânsito a postos para fecharmos a rua nesse dia e podermos colocar as mesas e cadeiras na rua, fazer um BBQ, e partilhar comidas e bebidas enquanto nos conhecíamos.
Um vizinho organizou uma corrida de bicicleta lenta em que, o último ciclista a chegar ao final da rua sem colocar os pés no chão ganhava. As crianças da rua também organizaram umas rifas; e um dos pais tinha uma máquina de fazer bolas de sabão para entretenimento das crianças. Houve actividades o dia todo e como estava uma noite tão boa, os últimos a terminarem a festa ficaram na conversa até depois do bater da meia-noite.
Adorei a minha primeira experiência de organização da festa de rua e foi óptimo poder ter conhecido muitos dos vizinhos. Agora quando ando pela rua já reconheço muitos dos vizinhos e tenho dito muitos mais 'olás' durante esta última. Sempre valeu a pena ter colocado as tais notas nas caixas de correio dos vizinhos.