As diferenças que encontrei na Comporta
Passei duas semanas em Portugal agora em Julho. Soube-me muito bem, e não foi só pelo facto de ter tido lá aquele calorzinho bom que fez tanta falta no Reino Unido durante o mês de Julho (que aparentemente foi o mais frio dos últimos 8 anos).
Queria passar um pouco mais tempo do que é habitual mas ia ser difícil tirar duas semanas seguidas de férias. Como tal, tirei a primeira semana de férias, e a segunda fiquei a trabalhar a partir da 'terra do meu pai' no Alentejo.
Então, pensando que queríamos ficar a uma distância relativamente pequena da zona de Montemor-o-Novo, decidi marcar a nossa primeira semana na Comporta visto que já há muito que não ia lá e tem boa praia. Mas o que eu não estava era nada à espera do que por lá encontrei.
Em vez da pequena aldeia Alentejana que tinha em mente, deparei-me com uma aldeia altamente gentrificada com imensos restaurantes de alta qualidade, bares giros que passavam música soft-jazz que nos embalou naquelas noites quentes, e um grande número de estrangeiros, não só turistas como também residentes.
Rapidamente cheguei à conclusão de que a Comporta é uma das zonas da moda do momento. Se se é um estrangeiro com cultura o suficiente para conhecer este pedaço do Alentejo, vai estar lá; e se se é Português e vive em Cascais, também vai para lá. Isto para dizer que umas férias na Comporta, ao contrário do que esperava, não é propriamente barato. Só consegui encontrar dois restaurantes que tinham preços mais razoáveis relativamente ao que se espera de um restaurante numa aldeia da costa Alentejana. Tudo o resto tinha os preços bem elevados a cerca de £20-£30 por um prato principal de uma dose que efectivamente só dá para uma pessoa.
E eu que dizia ao meu Inglês que ele podia esperar grandes doses de comida muito boa a uma pechincha. Nada disso! OK, a comida era boa, sim senhora, mas o preço é que não.
Depois na praia, se queria almoçar, ou tinha que ir às 16h ou tinha que marcar mesa assim que chegasse à praia, e o melhor era marcar logo para vários dias seguidos se queríamos almoçar numa mesa lá fora. A alternativa seria ir comer ao segundo restaurante que lá está ao lado, mas esse parece ser ainda mais formal e não tem a decoração agradável que o Comporta Café tem, nem as mesas na areia, nem o DJ nem nada disso. Portanto, se querem ir almoçar ao sítio mais giro, há que fazer reserva. Nunca eu antes tive que fazer reserva para almoçar em nenhum bar de praia!
Na primeira noite em que lá chegámos eu tinha pensado em reservar mesa para jantar por ser o nosso aniversário de casamento civil, logo queria ter garantido um restaurante que achasse que fosse bom. Tinha encontrado no Google o Sublime Beach Club que, ficava um pouco mais distante da aldeia da Comporta mas que parecia valer a pena o percurso de carro. E valeu! Foi perfeito para uma jantar especial a ver o pôr-do-sol. na praia e a ocasião assim o merecia. O que eu não esperava é que aquilo viessem a ser restaurantes especiais quase todas as noites porque são os únicos tipos de restaurantes que lá há.
Mas entre os restaurantes e bares giros, e as lojas de decoração e design cheias de coisas bonitas que apetece levar tudo mas que na realidade não se sabe o que se vai fazer com aquilo que a sua funcionalidade é mais visual do que factual, ouve outro factor que me surpreendeu. - Os empregados dos variados locais falavam connosco imediatamente em Inglês sem verificar primeiro se éramos estrangeiros ou se não. E quando eu lhes falava primeiro em Português, muitas vezes respondiam-me em Inglês na mesma, ou respondiam em Português mas com um sotaque estrangeiro, porque efectivamente eram estrangeiros. Resultado, as minhas expectativas de colocar o meu Inglês (marido) a praticar o Português para sair destas duas semanas com um melhor vocabulário, foram altamente postas de lado ao verificar que metade da Comporta não falava Português.
Outra surpresa - com esta situação de encontrar uma aldeia tão atraente e com tanto potencial de investimento ficámos curiosos para ver o preço das casas que afinal, nada como encontrar uma aldeia Portuguesa com bom potencial de crescimento onde apostar numa casinha para alugar. Mas qual potencial?! Os preços das casas já estão mais que avançados que parece que todos já tinham chegada à conclusão de que esta aldeia era bom investimento à uns anos atrás e agora toca de lucrar com o assunto. Provavelmente há uns 5-10 anos atrás compraram uma casa pequena de três assoalhadas sem piscina por uns €200.000, e agora já estão a mais de €700.000. É ridículo!
Resultado, a minha estadia na Comporta foi uma caixinha de surpresas com todo este desenvolvimento inesperado.
Se não gostei de lá estar? Gostei, sim senhora! OK, não gostei nada dos preços que já escrevi uma quantidade de parágrafos a desbaratar sobre os mesmos, mas adorei passar férias por lá. A aldeia está bonita, bem arranjada, é agradável de se estar em qualquer restaurante ou bar, o serviço foi impecável em todo o lado incluindo o hotel onde ficámos, o Alma Lusa, onde fomos recebidos com sorrisos simpáticos e até a gerente nos veio dar as boas-vindas à entrada. Depois temos a praia excelente ali ao lado, e muitas coisas para visitar na zona. Era difícil não gostar. É certo, a aldeia está gentrificada, e isso sempre vem com várias desvantagens principalmente aquelas associadas ao preço, mas o desenvolvimento da aldeia foi feito com o cuidado de preservar o seu aspecto original em vez de simplesmente construirem imensos edifícios altos como muitas vezes fazem para atrair o máximo de turismo mas sem nenhum respeito pela história da zona. Acho que esse desenvolvimento ao menos foi bem feito para já e proporcionou-nos uns dias calmos e super agradáveis na zona.