Agora ninguém quer sair da quarentena?
Durante as últimas 7 semanas, entre conversas que tenho tido com amigos, a artigos que tenho lido, podcasts que tenho ouvido, e posts nas redes sociais que tenho visto, notei uma tendência para emoções negativas relacionadas com a quarentena.
As razões da negatividade eram mais que muitas:
- Era a amiga que estava com a ansiedade mais acentuada que o normal nesta fase por causa do isolamento social;
- Era a outra amiga que também estava com ataques de ansiedade e depressão por ter ficado sem emprego;
- Eram os inúmeros artigos dedicados a alertar pessoas para cuidar da sua saúde mental durante a quarentena e aconselhar a praticar meditação;
- Eram os comentários nas redes sociais a envergonhar e apontar o dedo a quem tenha saído à rua por não estarem a cumprir com o isolamento social (mesmo que uma atitude não influencie necessariamente a outra);
- Era os inúmeros webinars a dar recomendações sobre como lidar com as finanças pessoais e corporativas durante a quarentena;
- Era os familiares idosos com medo de sair de casa com receio de apanhar o vírus;
- Eram as newsletters que falavam das dificuldades de se estar sozinho ou solteiro neste período da quarentena.
Em resumo, isto têm sido 7 semanas em que só se tem falado de desgraça! Portanto podem imaginar a minha surpresa quando nesta sexta-feira passada, quando estava numa vídeo-conferência do Zoom com amigos, alguém perguntou quem tem estado a gostar da quarentena, e umas 7 (eu não fui uma delas) das 10 pessoas que estavam na chamada levantaram a mão a concordar de que estavam a gostar! - Oquê?? 70% das pessoas estavam a gostar da quarentena? Principalmente sabendo que algumas delas tinham tantas razões negativas relacionadas à quarentena, e apesar disso agora, numa altura em que se vêm os primeiros passos para sair de quarentena, as pessoas começaram a gostar desta situação de isolamento em que nos encontramos?
Depois no Domingo, leio a newsletter do The Single Supplement em que a autora diz quetambém ainda não estava preparada para sair da quarentena (na altura em que enviou a newsletter ainda não sabíamos quais iam ser as medidas a ser anunciadas pelo Governo nessa noite) . O quê?! Mas então ninguém quer sair da quarentena agora?
Primeiro ninguém gostava nada desta situação, e agora que estamos a começar a sair, querem ficar confinados mais tempo em casa? Então perguntei aos amigos o porquê de dizerem que estão a gostar da quarentena, e o sentimento geral é que finalmente, após as primeiras semanas de desgosto e desânimo, já encontraram uma boa rotina, e até que estão a gostar dela. As razões principais que indicaram foram as seguintes:
- quem perdeu o trabalho, está a gostar de não ter obrigações, e o facto de haver muito pouca ou nenhuma oferta de emprego relevante para eles, faz com que não exista a pressão de procurar emprego, logo sentem uma certa libertação dessa responsabilidade e da responsabilidade de trabalhar de forma geral;
- quem se sentia com problemas financeiros ao início da quarentena, já se habituou à ideia de estar a receber menos durante este período - basicamente as ajudas que o Governo está a oferecer aos que têm direito - mas também aproveitaram para fazer uma revisão de todos os custos mensais que tinham, cortaram com vários custos desnecessários, e também estão a gastar muito menos dinheiro durante esta fase porque simplesmente não há muito em que gastar dinheiro aparte de comida e bebida, e que portanto sentem-se bem com a estabilidade encontrada a nível financeiro;
- outros estão a gostar do tempo de qualidade que têm passado consigo próprios ou com os parceiros - alguns dedicaram-se a fazer coisas novas, outros simplesmente aproveitaram para dar mais passeios;
- outros estão gratos pela calma que este tempo lhes tem trazido e por não sentirem as habituais obrigações sociais de ir a certas festas ou eventos sociais.
Não deixa de ter vindo a ser interessante ver as mudanças do estado emocional das pessoas ao longo desta quarentena. Infelizmente acho que ainda está longe de acabar, mas para já, acho que este gráfico representa bem o que tem acontecido até aqui: