No início do mês a minha mãe fez 70 anos. Era suposto ter estado em Portugal para todos fazermos uma grande festa mas claro que isso não foi possível. Como tal quis ao menos enviar-lhe um presente para ter no dia dos anos. Queria-lhe dar um fio mas queria enviar juntamente com um cartão escrito por mim para ser um presente bonito. Se eu comprasse directamente de Portugal, viria numa caixa sem estar embrulhado nem nada, portanto fui ver quais as minhas opções para poder enviar a partir de cá, sabendo que hoje em dia, com o Brexit, enviar encomendas não é tão fácil ou rápido como costumava ser. Mas também não esperava que fosse assim tão mau.
Pesquisei primeiro pelas companhias de entrega e verifiquei que, apesar do Brexit, estavam-me a dar uma estimada data de entrega de 3 dias para Portugal. Encontrei um fio de que gostei a partir do Etsy, e enviei primeiro para minha casa, para poder embrulhar o presente e colocar juntamente com um cartão.
Como a transportadora dizia que só demorava 3 dias para entrega, mesmo assim, decidi enviar com o dobro da antecedência só para ter a certeza de que chegava a tempo. A transportadora cobrou £35 pela entrega.
Um dia depois de ter enviado, telefonaram-me da central da transportadora no Reino Unido a dizer que eu tinha que colocar a factura de alfandega com a encomenda porque senão não a deixavam passar. Nessa factura tem que estar indicado o conteúdo e valor da encomenda - Eu já tinha ouvido falar da necessidade de enviar tal factura, mas pensei que só seria necessário com os correios porque com a transportadora eles teriam toda essa informação através do código de barras que tive que colar no pacote. Mas afinal, tal não é suficiente, e a factura de alfandega será sempre necessária quando se enviar o que quer que seja para fora do Reino Unido, apesar de não me terem indicado que tal seria preciso quando fiz o pagamento da encomenda. Mas lá a enviei por email, e a transportadora confirmou que a colocou com a encomenda.
Uma semana e meia depois de ter enviado a encomenda e, 5 dias depois do aniversário da minha mãe, a minha mãe recebe uma mensagem da alfândega a dizer que tem uma encomenda que está retida na alfandega porque o número de referência da encomenda tinha um número a menos do que é normal. Como tal tinha que lhe enviar a prova de pagamento da encomenda para verificar o número de referência.
Lá eu lhes enviei a tal prova. No dia seguinte pediram-me também o número de contribuinte.
Um dia depois pediram-me que lhes enviasse a factura de alfândega (outra vez). Lá enviei.
E que tal me terem pedido tudo o que precisavam de uma vez só em vez de pedir cada coisa em dias separados, não?
Seis dias depois recebi uma confirmação de que a encomenda estava a ser despachada para entrega e que, ao ser recebida, tinha que pagar uma nova factura de custos de gestão de alfândega, no valor de,... esperem por esta... €107!!! €107!!! Mal podia acreditar!
Ainda enviei um email de volta para tentar fazer com que eu pagasse o valor para que não pedissem à minha mãe para pagar isso, mas já foi tarde demais, e a entrega já tinha sido feita e a minha mãe tinha pago pelos custos administrativos. Claro que depois lhe paguei, mas ela acabou por ficar a saber o custo da alfândega e o custo do presente porque estáva indicado na factura de alfândega que estava anexada à encomenda.
Resultado, não só a entrega do documento custou-me no total mais do que o presente em si, como demorou, não 3 dias como tinham indicado, mas 3 semanas. Portanto, a conclusão é que se poderem evitar enviar qualquer encomenda que seja para dentro ou fora do Reino Unido, evitem.
Já há algumas semanas que não fazia um update da mudança para a nova casa, porque sinceramente, não têm havido grandes updates.
A organização que gere a minha Shared Ownership tinha o direito de promover directamente o apartamento durante um período de 8 semanas. A primeira pessoa que viu a casa fez uma oferta, mas não passou aos requerimentos financeiros da organização, e como tal, não pude proceder com a venda. Mas como a organização quase não fez promoção nenhuma, acabei por só ter duas pessoas a verem o apartamento, e como tal, não vendeu.
Ao fim das 8 semanas tenho o direito de vender o apartamento através de um agente imobiliário e ao preço total - portanto sem ser em shared ownership. Então contactei alguns agentes, e com todos os detalhes acordados, o apartamento foi colocado novamente no mercado na quinta-feira passada.
Nesse mesmo dia tive uma reunião dos residentes com a nossa organização de gestão do edifício e eles deram-nos as notícias de que identificaram que o material colocado no chão das varandas não é seguro de acordo com as novas regulações de prevenção de fogos em prédios. Como tal vão ter que ser substituídas e ainda não nos conseguem dar uma data certa de quando isso vai acontecer.
Resultado? Agora tenho todas as dúvidas sobre se devo continuar com a tentativa de venda antes desta situação estar resolvida. Isto é altamente negativo não só porque é um risco de fogo, os eventuais compradores provavelmente não estão interessados a comprar até a situação estar resolvida, e os bancos provavelmente não vão emprestar dinheiro a compradores quando o apartamento em questão está em risco de pegar fogo mais facilmente que outros.
Vou falar com o agente amanhã mas o mais provável vai ser mesmo ter que adiar esta nossa venda e compra por um período indefinido até nos resolverem esta situação. É muito desanimador quando já estávamos tão entusiasmados com a ideia de nos mudarmos para uma casa com mais espaço. São coisas que acontecem e que, infelizmente não são do nosso controlo o que torna a coisa ainda mais frustrante porque efectivamente não podemos fazer nada a não ser esperar que a organização resolva o assunto. Agora estou para ver é quanto tempo é que isto vai demorar...
Daqui a uma semana e 3 dias as primeiras lojas não essenciais vão finalmente poder abrir. Entrámos no nosso terceiro confinamento aqui em Inglaterra a 5 de Janeiro e, desde essa altura que as lojas não essenciais não voltaram a abrir, que não podemos viajar, que não nos podemos encontrar com mais do que um amigo fora de casa. Faz mais de 4 meses nesta situação em que os nossos dias, noites, fins-de-semanas são idênticos ao outro anterior. Foram 4 meses em que temos estado a viver o 'Groundhog Day' continuamente. Só que em vez de passarmos o dia num festival cheio de pessoas onde temos a oportunidade de socializar e conhecer cada pessoa melhor, passamos os dias a fazer passeios sozinhos ou com as pessoas que vivemos, a ouvir podcasts, tentar ser imaginativos com a culinária e ver séries sem fim no Netflix.
Devo dizer que este ano permitiu-me conhecer melhor a zona onde vivo do que nos 6 anos anteriores em que já estava na zona. Neste momento penso que já não há qualquer rua num rádio de 5 km por onde ainda não tenha passado. Isso é positivo não é? Sempre é bom conhecer bem a zona onde se vive. Não seria bem o que teria escolhido fazer num ano normal mas há que olhar pelo lado positivo da coisa.
Esta fase também nos ajudou a parar e pensar mais na vida que vivemos, o que alcançámos e o que ainda queremos alcançar. E devo dizer que, pelas conversas que tenho tido com muitas pessoas, isso não tem sido necessariamente uma actividade positiva. Afinal, quando temos uma vida ocupada e não estamos a atingir aquilo que queremos - quer seja o trabalho que fazemos; o lugar onde vivemos; estarmos a partilhar a nossa vida com a pessoa certa; ou fazer o projecto que temos planeado à anos - temos uma desculpa para não os termos atingido porque estamos demasiado ocupados. Agora de repente temos tempo. Tivemos um ano inteiro de tempo, e apesar de haver o desconfinamento em vista, não temos a certeza total de que efectivamente vamos voltar à normalidade que conhecíamos em 2019 para breve. E com todo este tempo é inevitável que tenha havido muita ansiedade, depressão, incertezas, porque não são muitas as pessoas que podem dizer que está tudo bem com elas e que têm a vida exactamente como elas queriam. Pelo contrário, acho que nunca ouvi tantas pessoas dizerem num espaço de tempo tão pequeno de que esta não era a vida que imaginaram para elas.
Conheço quem se queira divorciar porque se apercebeu, com o confinamento, que estar 24horas com o pai do filho só lhe traz desgosto; quem decidiu que vai ser mãe solteira porque quer mais que tudo ser mãe mas que já não sente qualquer esperança de ter tempo para conhecer o futuro pai dos filhos a tempo de engravidar enquanto ainda é jovem o suficiente para o fazer com segurança; conheço quem se apercebeu que escolheu a carreira errada mas que enquanto não sairmos do confinamento não pode fazer uma mudança; conheço também quem tenha decidido optar voltar ao trabalho que tinha deixado à anos atrás porque o confinamento não lhe permitiu continuar a seguir o seu sonho;conheço também quem tenha visto os seus negócios aceleraram de uma forma que nunca teria acontecido se não fosse a pandemia e que, agora estão muito melhor financeiramente do que o que estavam à um ano atrás; conheço quem decidiu mudar-se para o campo para poder ter o espaço e o conforto que acha que nunca vai poder ter na cidade; conheço também quem se tenha enroscado de tal forma em casa com receio e ansiedade de apanhar o vírus que agora se sente altamente desconfortável por sair de casa e não gosta da ideia de voltar a encontrar-se com pessoas.
Esta pandemia trouxe-nos mais que muitas mudanças na vida e dúvidas que colocaram em perspectiva e em questão as nossas decisões. Tem havido muita tristeza associada com tudo isto mas eu espero que este ano de introspecção, nos ajude a termos força para podermos tomar as decisões que precisamos de tomar para fazermos as mudanças que sejam necessárias baseadas naquilo tudo que andámos a pensar e que concluímos. Somos nós os donos das próprias vidas e devemos vive-las como quisermos pelo que espero que daqui a um ou dois anos, quando olhar para trás para este período, em vez de apenas pensar em todas as coisas negativas que estão intrinsecamente associadas a este período, que consiga também ver as mudanças que eu e as pessoas que me envolvem fizeram para melhorar de uma forma ou outra aquilo que achámos que não estavam bem certo.
Entretanto só espero que o Governo Britânico esteja correcto, e que este terceiro confinamento que estamos quase a terminar, tenha sido mesmo o último para podermos finalmente passar esta fase e sair do 'Groundhog Day'. A ver vamos...