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Tuga em Londres

A vida de uma Lisboeta recentemente Londrina.

O problema da tecnologia e redes sociais

Uma das coisas que sempre me fez evitar dedicar-me demasiado às redes sociais foi o conflito que tenho visto consecutivamente a ser demonstrado nas mesmas. Pessoas que não se conhecem de lado nenhum começam a ter discussões agressivas sem muita razão aparente. Talvez levadas pela força da natureza humana de não querermos perder. E ao não querermos perder, mas discordando das opiniões dos outros, começamos num debate online que muitas vezes torna-se ofensivo porque nenhuma das partes se quer dar por vencida, e ao sentir-se ofendida, ofende ainda mais, e começa uma bola de ofensas que nunca mais acaba. 

 

Um assunto sobre o qual nunca tinha pensado muito, apesar de saber perfeitamente que é assim que a tecnologia funciona, é o porquê de haver tantas pessoas com tantas certezas de que têm toda a razão. E ao ver o novo documentário do Netflix intitulado 'The Social Dilemma' fez-me pensar mais nisso - a tecnologia com que o consumidor interage no dia-a-dia, nomeadamente a tecnologia relacionada com as redes sociais, mas não só, funciona de forma a identificar os interesses de cada indivíduo, de forma a fornecer-lhe informação sobre as coisas que lhe interessam, e outras coisas que o indivíduo ainda não saiba, mas que sejam de teor semelhante. É aquela ideia da tecnologia criada pela Amazon de que, ao comprares o produto X, a Amazon oferece-te a hipótese de também comprares os produtos Y e Z, porque identificou, através da sua base de dados, que a maioria de pessoas que comprou o produto X também comprou ou esteve interessado em comprar os produtos Y ou Z. A ideia é a mesma com outros tipos de informação encontrada online - se viste um vídeo no YouTube sobre o facto de que o Coronavirus é uma completa mentira inventada pelos Governos para nos manterem todos em casa enquanto eles estão a tramar umas coisas más, os algoritmos do YouTube vão identificar que tu és o tipo de pessoa que talvez se deixe influenciar por teorias da conspiração e, como tal, vai imediatamente sugerir que vejas outros vídeos relacionados sobre as manipulações de certos Governos, etc., etc. E enquanto passas o tempo a ver esses vídeos e a assimilar toda essa informação, estás exactamente a passar muito mais tempo na dita rede social, o que permite a essa rede social servir-te mais anúncios de produtos ou serviços que geralmente outras pessoas que gostam de ver esse tipo de vídeos que estás a ver, também têm tendência a clicar e/ou comprar.

 

Portanto ficam todos contentes - o indivíduo está contente porque ficou mais informado sobre assuntos que lhe interessam, os publicadores dos tais vídeos estão contentes porque têm mais pessoas a ver o seu conteúdo, e como tal vão receber mais comissão dos anúncios que aparecem nos seus vídeos; os anunciantes ficam contentes porque mais pessoas estão a clicar nos anúncios e fazem compras; e a rede social fica contente porque os anunciantes vão continuar a gastar mais dinheiro em publicidade no canal. Bom para todos, correcto? - Errado! 

É errado porque no momento em que o algoritmo da plataforma em questão, qualquer que ela seja, oferece mais do mesmo tipo de conteúdo, está a transformar aos poucos e poucos a opinião dessas pessoas, e sendo que essas pessoas continuam a ser servidas mais e mais conteúdo do mesmo género, vão ficando com opiniões formadas mais fortes sobre um determinado assunto e, quando de repente se deparam com alguém que discorda com elas, acham que essa pessoa é completamente estúpida por não compreender a sua opinião, e daí começarem as muitas discussões agressivas online. 

 

Isto está relacionado com o contínuo surgimento de extremismo nos últimos anos - o extremismo por parte de grupos religiosos que conseguem encontrar apoiantes mais facilmente, o extremismo das opiniões políticas da sociedade que se encontram cada vez mais divididas, o extremismo sobre as coisas que nos fazem bem e nos fazem mal à saúde, etc etc. E estas divisões de opiniões passam do ambiente online para a vida real, e vêm-se mais manifestações e conflitos e nota-se que vivemos numa sociedade mais dispersa e mais conflituosa. E muito disso porque várias tecnologias decidiram por nós o conteúdo que nos interessa mais e que devemos ver, ler e ouvir, e que inevitavelmente nos influenciam. E depois, quando nos deparamos com pessoas com opiniões diferentes achamos inacreditável como é que elas não nos percebem - 'claramente não estão nada informadas se não sabem aquilo que nós sabemos' - elas não sabem porque nunca lhes foi servida essa informação, mas outra completamente diferente. 

 

Para quem ainda não viu, aconselho dedicarem tempo para ver esse documentário porque trás perspectivas muito interessantes. Se vou já apagar as minhas redes sociais depois de ver visto este documentário? - Não. Eu gosto dos benefícios que as redes sociais me oferecem mas também estou perfeitamente alerta para o facto das más influências que elas podem trazer, e simplesmente evito passar muito tempo nelas, evitando também os tais conflitos de que falei ao início do post. E quando as pessoas vêm tentar criar os tais conflitos, eu simplesmente corto a conversa quando começar a ficar desconfortável. Não tenho paciência para andar em longas conversas conflituosas com pessoas que não conheço de lado nenhum e que parece que não têm mais nada que fazer que discutir tudo e mais alguma coisa. 

 

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