Comprar casa em Londres - começa a saga
Comecei a pensar mais a sério na hipótese de comprar casa um dia no ano passado, quando estava a correr ao longo do canal e vi que lá estavam a começar a construir um novo edifício. Eu adorava poder viver junto à água (canal, rio, mar, o que fôr) então assim que cheguei a casa fui pesquisar pelo nome do edifício na Internet. Já me podia inscrever para ficar na lista de espera e para receber o alerta quando lançassem os apartamentos para venda este ano. Esse dia foi à cerca de 3 semanas atrás. Fui ver o apartamento modelo, que não era mau, mas fiquei decepcionada ao saber que os apartamentos no complexo junto ao canal íam provavelmente ser vendidos a uma empresa de investimento que depois os ía alugar por um preço rídiculo, como é óbvio. Os restantes apartamentos estariam disponíveis para compra no esquema do governo de "shared ownership", ou seja, um esquema que ajuda as pessoas a comprarem casa em locais onde, de outra forma não conseguiriam comprar devido aos elevados preços da zona. Com esse esquema, o comprador compra apenas uma percentagem da casa, sendo que o resto da casa pertence ao Estado. Isto significa que o comprador tem que pedir um empréstimo ao banco mais pequeno e, à parte da casa que pertence ao Estado irá pagar um aluguer. Mais tarde, quando o comprador tiver mais possibilidades, poderá comprar o resto da casa ao Estado. A maior desvantagem que vejo neste esquema é que, enquanto não se tem total propriedade da casa, não se pode utilizá-la como investimento, ou seja, o comprador tem que viver lá e não a pode alugar. Daí, caso algo aconteça, e precisar de mudar, a única hipótese é mesmo vender a sua parte na casa. Podem ler aqui para mais informações sobre a "shared ownership".
Acabei por ficar desanimada com aquele edifício e achei que, pelo que era, mesmo assim ficava caro demais. Mas pensei que, efectivamente, tem sido um autentico desperdício todo o dinheiro que tenho andado a pagar mensalmente ao meu senhorio e, teria muito mais lógica pagar por algo meu. Assim sendo, comecei a pesquisar por casas e oportunidades de compra.
Primeiro pensei que seria uma boa ideia comprar um apartamento de 2 quartos baratinho e alugar o segundo quarto para me ajudar a pagar o empréstimo. O único problema é que os únicos "baratinhos" que encontrei anunciados tinham o aspecto de ser apartamentos onde eu não gostaria mesmo nada de viver. Lá encontrei um numa das zonas onde eu queria viver, mas localizado na rua de um mercado, mesmo por cima de um talho. Dada a localização do mercado apresenta-se mais barato que a maioria e como tal, achei que seria um bom investimento. Decidi ir ver o apartamento num dia de mercado para analisar bem como seria viver lá. Era por volta do meio-dia a um sábado de manhã e, ao subir as escadas do edifício comecei a ouvir a música bem alta que estava a bombar no apartamento no andar em cima àquele que ía ver. Humm,... não me parece que isso fosse um bom sinal acerca da vizinhança. Entrei no apartamento e, verifiquei que o espaço até que não era mau, apesar de ter acabamentos muito baratos mas, não só eu conseguia ouvir a música bombástica do vizinho, como também conseguia ouvir a acção do mercado lá fora, apesar das janelas estarem fechadas. Achei que não seria uma boa ideia.
Como não consegui encontrar mais nenhuma opção barata para 2 quartos dentro da minha zona de preferência tive que tomar uma decisão sobre aquilo em que podia fazer um compromisso:
- A localização é extremamente importante para mim, para poder estar perto dos amigos, dos locais onde gosto de sair e poder continuar a estar a uma distância do trabalho em que possa ir de bicicleta. Não é negociável e, de qualquer forma já tenho uma área de procura abrangente o suficiente.
- O tipo de casa: tem que ser bonitinha por fora mas pode necessitar de obras na parte interior. Portanto aí pode haver algum compromisso.
- O tamanho da casa: pode ser pequeno portanto aqui fica o maior compromisso.
Então comecei a olhar para estúdios e apartamentos de 1 quarto. Fui ver um estúdio que ficava num rés-de-chão. O espaço do estúdio em si, até que não era mau, mas tinha um grave problema - a sua única janela dava para as traseiras de um novo edifício que estava ali a ser construído e planeado para ter 2 andares. Ou seja, ía tapar toda e qualquer possível oportunidade de sol de entrar naquele pequeno estúdio. Um estúdio, num rés-de-chão, sem sol, sem vista, e numa zona relativamente perigosa rodeada de bairros menos simpáticos - não me parece lá muito boa ideia.
Fui então ver um outro apartamento de 1 quarto, localizado num edifício alto de habitação social. O edifício em si aparentava melhor em fotos do que na vida real. As escadas eram muito sujas e o apartamento em si estava mal cuidado. Lá dentro encontrei 5 pessoas. Aparentemente eram uma família de emigrantes da Europa do Leste que viviam ali todos naquele pequeno apartamento de 1 quarto. Haviam sinais de infiltrações nas paredes, o que poderia ser um problema maior do que aquilo que aparenta à vista por isso, também não ía ser este.
Na sexta-feira outro agente telefonou-me:
Ele: "Acabou de ser lançado no mercado um estúdio em Kingsland Road. Quer ir ver?"
Eu: "Oh wow, isso seria óptimo. Qual é o preço?"
Ele: "£325,000"
Eu: "£235,000?"
Ele: Não, £325,000!
Eu: "Tem torneiras em ouro? Deixe estar. Não vale a pena ir ver esse."
Vão lá roubar mas é para a terra deles!!!! Ahh, esperem,... eles estão na terra deles :-S
Os preços de habitação em Londres estão completamente ridículos! Uma amiga minha que comprou um apartamento de 2 quartos junto a Kingsland Road à 4 anos atrás, comprou-o por £270,000. Hoje está avaliado em £440,000! É inacreditável, o ritmo abismal a que os preços da zona cresceram. Daí, as únicas casas que encontro a preços menos maus tenham algo de muito errado com elas.
Por curiosidade fui pesquisar o que eu conseguiria comprar em Portugal por £325,000, ou seja €439,000 - a menos que isso, por €435,000 consegue-se uma moradia T4 num condomínio privado com piscina em Cascais, a 5 minutos da praia:
Vivenda anunciada no Portalismo.pt
E para terem uma ideia do que é a "agradável" vista que teriam a partir de um estúdio na Kingsland Road, aqui fica uma foto da rua:
Imagem retirada do Wikipedia
Talvez a minha melhor hipótese seja mesmo olhar para uma opção de "shared ownership". Não é ideal, mas pelo menos, geralmente esses apartamentos são localizados em edifícios relativamente novos e poderia conseguir numa zona menos perigosa, dentro da minha freguesia. A ver vamos. Não tenho pressa. A procura continua.